Os efeitos invisíveis da COVID

A pandemia global da COVID-19 afetou as vidas físicas da maioria das pessoas. Mas agora, há indicações de que a pandemia também tenha consequências negativas na saúde mental de todos os afetados; dos profissionais da saúde à população em geral.

Isso é evidenciado através da nova revisão dinamarquesa de quarenta e três artigos científicos que analisaram o tema. A revisão foi produzida por pesquisadores da Universidade de Copenhague, do Centro de Saúde Mental de Copenhague, e dos Serviços de Saúde Mental da Região do Capitólio da Dinamarca.

“Sabemos a partir da última epidemia da SARS entre 2002 e 2003, também chamada de gripe aviária, que a saúde mental foi afetada na maioria dos pacientes que sobreviveram à doença. Isso também se aplica aos profissionais da saúde que estavam tratando esses mesmos pacientes. Nosso artigo recém publicado sistematicamente revisa o conhecimento atual a respeito dos sintomas entre profissionais e pacientes, e o mesmo quadro parece surgir no caso da pandemia da COVID-19”, diz o professor Michael Eriksen Benros, do Departamento de Imunologia e Microbiologia na Universidade de Copenhague e do Centro de Saúde Mental de Copenhague.

Estresse Pós-Traumático, Depressão e Ansiedade

O artigo é uma revisão de um total de quarenta e três estudos científicos. Destes, vinte estudos examinaram a saúde mental dos profissionais da saúde. Um grande número desses estudos relatou níveis maiores de ansiedade e depressão assim como estresse mental e baixa qualidade de sono. Dezenove estudos examinaram a saúde mental da população como um todo. Aqui, também, é apontado que o cenário geral da pandemia da COVID-19 tem causado impactos negativos.

Apenas dois estudos até agora examinaram os sintomas mentais entre os pacientes com infecção pela SARS-CoV-2. Os números apontam que 96% dos internados em estado grave com COVID-19 exibiram sintomas de estresse pós-traumático. Também foi encontrado um risco maior de desenvolver depressão entre os hospitalizados.

“Muitos outros estudos mais minuciosos são necessários, mas estes resultados são relevantes. Os numerosos relatos de paladar e olfato reduzidos durante uma infecção pode indicar que o efeito esteja no sistema nervoso. Portanto, é preocupante que sintomas mentais tenham sido detectados durante ou após o período da infecção. Um fator contribuinte pode ser o da infecção, talvez, estar afetando o cérebro e causando esses sintomas, seja diretamente ou através de respostas imunológicas induzidas”, diz Michael Eriksen Benros.

Necessidade de mais estudos

Os pesquisadores por trás dessa revisão enfatizam que reservas importantes devem ser feitas pois os estudos inclusos são de qualidades variáveis. A urgente crise na saúde e na sociedade levou à publicação de artigos científicos mais rápida do que o habitual. Além disso, a maioria dos estudos foi realizada através de questionários online e, portanto, não possui a mesma qualidade que estudos clínicos meticulosos. A maior parte dos estudos também vem da Ásia, e não fica claro se os resultados podem ser traduzidos a um contexto europeu, por exemplo.

“Precisamos de estudos de qualidade de ponta para tecer qualquer conclusão a respeito de um elo entre a COVID-19 e os sintomas causados na saúde mental. Contudo, nossos resultados indicam que a COVID-19 pode ter um impacto nos cérebros dos infectados, e que existem efeitos derivados da pandemia na saúde de profissionais e da população em geral. Dado o fato de que a epidemia da SARS também foi associada a sintomas mentais, acreditamos que mais pesquisas nesta área sejam de extrema importância, já que o conhecimento é o pré-requisito para lidar com qualquer consequência da COVID-19”, diz a aluna de doutorado e autora-chefe Nina Vindegaard Sørensen, do Departamento de Imunologia e Microbiologia da Universidade de Copenhague e do Centro de Saúde Mental de Copenhague.

A epidemia anterior da SARS espalhou-se entre vinte e oito países e deixou um rastro de mais de oito mil doentes, enquanto a SARS-CoV-2 já alcançou cento e oitenta países, infectando mais de oito milhões ao redor do planeta.

Fonte: EurekAlert!
Imagem: Al Arabyia

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