Como convencer alguém quando os fatos falham?

Imagem de Capa: Izhar Cohen

Texto traduzido de Scientific American, escrito por Michael Shermer

Você já percebeu que quando você apresenta fatos contrários às crenças mais profundas das pessoas elas sempre mudam de ideia? Nem eu. Na verdade, as pessoas parecem se agarrar mais às suas crenças quando diante de evidências esmagadoras contra as mesmas. O motivo está relacionado à visão de mundo ameaçada pelos dados conflitantes.

Criacionistas, por exemplo, questionam as evidências em fósseis e no DNA porque estão preocupados com a substituição da fé religiosa por forças seculares. Militantes anti-vacinação não confiam nas grandes indústrias farmacêuticas e acreditam que o dinheiro corrompe a medicina, o que os leva a crer que vacinas causam autismo apesar da inconveniente verdade de que o único estudo afirmando tal ligação foi recusado e seu autor acusado de fraude. Os questionadores do 11 de setembro se concentram em minúcias como o ponto de fusão do metal dos edifícios do World Trade Center como causador do colapso, porque eles acham que o governo mente e conduz operações de alarme falso para criar a Nova Ordem Mundial. Negacionistas das mudanças climáticas estudam anéis de árvores, núcleos de gelo e a quantidade de gases estufa na atmosfera porque são entusiastas da liberdade, defensores em especial da ausência de regulação governamental sobre mercados e indústrias. Outros até mesmo duvidam da nacionalidade de Barack Obama, investigando sua certidão de nascimento em busca de fraude, pois acreditam que o primeiro presidente afro-americano é um socialista determinado a destruir o país.

Nesses exemplos, as visões de mundo de seus proponentes foram percebidas como ameaçadas por céticos, tornando os fatos inimigos a serem destruídos. Esse poder da crença sobre a evidência é o resultado de dois fatores: dissonância cognitiva e efeito backfire. No clássico livro de 1956 “When Propecy Fails”, o psicólogo Leon Festinger e seus coautores descreveram o que aconteceu com um culto OVNI quando a nave mãe não chegou no tempo previsto. Ao invés de admitir o erro, “membros do grupo procuraram freneticamente convencer o mundo de suas crenças” e fizeram “uma série de tentativas de apagar sua latente dissonância, fazendo inúmeras previsões na esperança de acertarem uma”. Festinger chamou isso de dissonância cognitiva, ou a inconfortável tensão de manter duas crenças conflitantes simultaneamente.

Dois psicólogos sociais, Carol Travis e Elliot Aronson (ex-estudante de Festinger), em seu livro de 2007 “Mistakes were Made (But Not by Me)” , documentam milhares de experimentos que demonstram como as pessoas tentam adulterar fatos para que se encaixem em suas crenças preconcebidas e reduzira dissonância. Sua metáfora da “pirâmide da escolha” coloca dois indivíduos lado a lado no topo da pirâmide e mostra o quão rapidamente eles divergem e acabam nos cantos opostos da base ao escolherem posições para defender.

Em uma série de experimentos conduzidos pelo professor de Darthmouth College, Brendan Nyhan e da University of Exeter¸ Jason Reifler, os pesquisadores identificam um fator relacionado chamado backfire effect* (Uma expressão equivalente a “O tiro saiu pela culatra”) “no qual eventuais correções na verdade fortalecem ideias errôneas sobre o grupo em questão”. Por que? “Porque ameaça a visão de mundo ou auto-conceito”. Por exemplo, sujeitos receberam artigos de jornal falsos que confirmam ideias errôneas amplamente difundidas, como a de que o Iraque possui armas de destruição em massa. Quando os sujeitos receberam artigos corretivos mostrando que tais armas nunca foram encontradas, progressistas aceitaram o novo artigo e rejeitaram o antigo, enquanto conservadores que apoiam a guerra fizeram o oposto… e mais: eles se mostraram ainda mais convencidos de que haviam armas de destruição em massa no Iraque, argumentando que os artigos apenas provaram que Saddam Hussein as escondeu ou destruiu. Na verdade, Nyhan e Reifler perceberam, dentre muitos conservadores “a crença de que o Iraque possuiu armas de destruição em massa imediatamente antes da invasão americana persistiu muito além do governo Bush”.

Se fatos corretivos apenas pioram a situação, o que podemos fazer para convencer as pessoas dos erros em suas crenças? De minha experiência, 1. Manter emoções fora de questão, 2. Debater, não atacar (sem ad hominem ou ad Hitlerum), 3. Ouvir com atenção e tentar articular a outra posição, 4. Mostrar respeito, 5. Deixar claro que você entende o porquê da pessoa ter tal opinião, e 6. Tentar mostrar como mudar ideias não necessariamente significa mudar visões de mundo. Essas estratégias podem nem sempre fazer as pessoas mudarem de ideia, mas agora que a nação foi colocada sobre dúvidas constantes de fatos políticos, podem ajudar a reduzir polarização desnecessária.

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