Como um acelerador de partículas ajudou a recuperar imagens manchadas do século XIX

Não é apenas na física de partículas que um acelerador tem papel fundamental, com a ajuda de um acelerador de partículas, cientistas estão trazendo de volta “fantasmas do passado” revelando retratos escondidos sob a superfície manchada de placas fotográficas de prata com cerca de 150 anos de idade.

Os pesquisadores da Western University em Londres (que apesar do mesmo nome da cidade londrina, fica no Canadá) usaram um acelerador chamado síncrotron para produzir fortes feixes de raios X, mas não danosos, para escanear as fotografias danificadas, chamadas daguerreotipo, assim mapeando sua composição química. Isso permitiu que a química Madalena Kozachuk, e seus colegas rastreassem sinais de mercúrio nas placas e criassem cópias digitais das imagens escondidas, relatou a equipe na Scientific Reports. Uma imagem revelou uma mulher; a outra, um homem que estava completamente obscurecido pela mancha.

Uma das primeiras formas de fotografia, os daguerreotipos foram populares desde a década de 1840 até 1860. Os fotógrafos criavam as imagens fazendo uma placa de cobre revestida de prata e tratando-a com vapor de iodo para gerar uma superfície sensível à luz. Os participantes ficavam sentados durante os vários minutos necessários para expor a placa e criar uma imagem. Então os fotógrafos tratavam a placa com vapor de mercúrio aquecido e uma solução de ouro para desenvolver a imagem, formando minúsculas partículas de prata-mercúrio-ouro onde a luz atingiu a placa durante o processo de exposição. Essas partículas compõem a imagem, refletindo a luz branca. Partes mais claras de uma imagem, como as mãos e o colar da mulher, têm uma densidade maior dessas partículas.

A luz, ou radiação, síncrotron é um tipo de radiação eletromagnética de alto fluxo e alto brilho que se estende por uma faixa ampla do espectro eletromagnético desde a luz infravermelha, passando pela radiação ultravioleta e chegando aos raios X. Ela é produzida quando partículas carregadas, aceleradas a velocidades próximas à velocidade da luz, têm sua trajetória desviada por campos magnéticos.

Ao mapear a distribuição de mercúrio com imagens de fluorescência de micro-raios X (μ-XRF) induzida por Radiação Síncrotron, retratos completos, que a olho nu são totalmente obscurecidos pela corrosão extensa, podem ser recuperados de forma não invasiva. As análises revelaram onde estavam as partículas originais, permitindo assim que os pesquisadores reconstruissem a imagem.

Os síncrotrons nunca tinham sido usados ​​para revelar daguerreótipos antes, então Kozachuk não sabia o que esperar. “Quando a imagem ficou aparente, foi de cair o queixo”, diz ela. “Eu gritei quando o primeiro rosto apareceu.”

Aceleradores são caros e ter tempo para trabalhar neles pode ser difícil, no entanto seu uso é essencial já que é uma técnica que permite que a imagem possa ser recuperada de maneira não invasiva, sem contato e não destrutiva. Kozachuk espera que com isso sua pesquisa permita que museus com daguerreótipos danificados revelem mais desses rostos desbotados.

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Referência: Nature

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