“A brisa de hoje se vai amanhã?” : Um estudo sobre a duração do efeito da Cannabis
Traduzido de Neuroscience News
O psiquiatra da University of Alberta, Canadái, Scot Purdon, diz que há dados suficientes que sugerem que no curto prazo — de uma a três horas após o consumo de Cannabis — a memória, capacidade de manter o foco, desatenção e coordenação motora fina são afetadas o suficiente para que não seja recomendável que a pessoa dirija, opere maquinário pesado ou realize tarefas que colocam o local de trabalho sob perigo.
O que não sabemos, diz ele, é a duração desses déficits — e quais outras funções são afetadas além destas. O efeito pode durar um dia, uma semana ou até mesmo um mês. Poucos estudos foram feitos sobre problemas no longo-prazo e nenhum investigou os efeitos além de 28 dias.
Testes semelhantes ao “bafômetro”(utilizado por policiais para mensurar níveis de álcool em motoristas) para níveis de Cannabis estão ainda em estágio de desenvolvimento. Mas mesmo se os testes puderem mensurarem os níveis de THC — o composto responsável pela “brisa” — na saliva imediatamente após o consumo, “Não temos nenhuma conexão entre isso e nenhuma medida cognitiva”, diz Purdon.
“Se alguém for detido por dirigir sob efeito de Cannabis, esses problemas virão à tona. Será um desafio em qualquer caso que for aos tribunais. E até que tenhamos qualquer associação direta, algum número direto, eu não quero ser um especialista dando um testemunho em um tribunal”, diz ele.
Mensurando níveis de déficit
Em conjunto com com Cameron Wild, pesquisador da MacEwan University, Purdo explora como a duração e frequência do uso, e a idade do usuário, pode contribuir com os níveis de déficit.
Já a caminho do início dos testes, com 40 participantes recrutados até então, o estudo irá examinar 120 jovens com idade entre 18 e 35 anos descritos como usuários frequentes — que consomem ao menos um grama de Cannabis ao menos uma vez por semana.
Os participantes são entrevistados e preenchem questionários para determinar seu estado de saúde mental e histórico de uso de substâncias, frequência e quantidade de consumo de Cannabis, e especialmente detalhes do último uso.
Então eles passam por testes padrão de performance para avaliar proficiência de aprendizado verbal e fluência verbal — quão rápido você pode falar — bem como retenção de palavras e imagens. Outros testes mensuram habilidades executivas, ou o quão rápido você pode planejar uma ação sem se confundir.
“Nós na verdade faremos os participantes aprender coisas à nossa frente e mensurar quão rápido eles as fazem”, diz Purdon.
Ele gostaria também de examinar a tolerância e se aqueles que fumam frequentemente, como usuários medicinais, são menos propensos aos efeitos intoxicantes de dadas quantidades de Cannabis. “É verdade que as pessoas mais tolerantes se dão tão bem nas tarefas quanto os usuários de primeira viagem?”.
Ele espera ter resultados disponíveis em seis meses e gostaria de buscar mais estudos sobre os efeitos da Cannabis após isso.
Tempo é a essência para a evidência
Com a legalização no Canadá se aproximando, “É incrível para mim o fato de ninguém ainda nunca ter feito isso”, diz Purdon.
Ele diz que todos têm uma reação diferente aos efeitos da Cannabis, logo os efeitos residuais também são diferentes.
“Em algumas pessoas, problemas de memória podem se esvair mais rapidamente que problemas sensoriais e motores. Nós apenas não sabemos”.
Descobrir é, entretanto, crucial para entender como o aprendizado e o desenvolvimento podem ser comprometidos na juventude e para garantir a segurança do trabalho.
“Eu não quero provocar nenhuma profissão, mas eu não gostaria que o meu cardio-cirurgião fumasse algo antes de entrar na sala de operação”.
Charl Els, um psiquiatra da University of Alberta que estuda o uso de substâncias e segurança do trabalho, diz que a pesquisa de Purdon não poderia ser mais urgente, tendo em vista a legalização iminente no Canadá.
“Mesmo com a legalização iminente da maconha no Canadá, nós sabemos pouco sobre os efeitos deficitários da substância”, diz Els. “O mercado de trabalho canadense aida não está pronto, e apenas pesquisas mais profundas poderiam dar as respostas necessárias para nos preparar para o que está por vir”.
No dia 24 de janeiro o governo canadense anunciou um financiamento de $1.4 milhões para 14 projetos de pesquisas do país, com objetivo de entender melhor os efeitos da regulação da Cannabis.
Referências:
Imagem em destaque: University of Alberta
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