Astrônomos detectam molécula orgânica importante para a formação de vida em sistema estelar e cometa
Astrônomos utilizando o telescópio ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array) detectaram uma impressão digital molecular do composto orgânico cloreto de metila em torno de um sistema de protoestrelas conhecido como IRAS 16293-2422. Os rastros deste composto orgânico também foram descobertos na fina atmosfera do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko (67P/C-G) pela sonda espacial Rosetta.
O cloreto de metila (CH3Cl), também conhecido como Freon-40, é uma das classes de moléculas orgânicas conhecidas como organo-halogenados. Organo-halogenados correspondem a uma classe de moléculas que contêm pelo menos um átomo de halogênio ligado ao carbono, são abundantes na Terra onde são produzidos principalmente por meio de processos industriais e biológicos. Consequentemente, eles foram propostos como biomarcadores na busca de vida em exoplanetas.
Esta nova observação ALMA é a primeira detecção de um organo-halogenado estável no espaço interestelar. Os resultados são publicados na revista Nature Astronomy.
Localização aproximada do cometa 67P/C-G quando a sonda espacial Rosetta descobriu traços de cloreto de metila – a mesma molécula detectada pelo ALMA em torno da região formadora de estrelas IRAS 16293-2422. Crédito: B. Saxton (NRAO/AUI /NSF)
A descoberta cósmica deste composto orgânico, no entanto, é uma notícia decepcionante para os astrobiologistas, que anteriormente sugeriram que presença de cloreto de metila na atmosfera de mundos alienígenas seria um possível indicador da vida. Já que as recentes detecções de ALMA e Rosetta suscitam dúvidas sobre essa proposta. Elas indicam que o cloreto de metila pode se forma naturalmente em nuvens interestelares e durar tempo suficiente para se tornar parte de um sistema solar formador acabando com a esperança do composto ser um possível indicador de vida.
“Encontrar organo-halogenados perto dessas estrelas jovens, do tipo do nosso Sol, foi surpreendente”, disse a autora principal Edith Fayolle, pesquisadora do Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics (CfA) em Cambridge, Massachusetts, no momento da descoberta. “Nós simplesmente não prevíamos sua formação e ficamos surpresos em encontrá-lo em concentrações tão significativas. Fica claro agora que essas moléculas se formam facilmente em viveiros estelares, fornecendo informações sobre a evolução química dos sistemas solares, incluindo a nossa”.
“A descoberta do ALMA de organo-halogenados no meio interestelar também nos diz algo sobre as condições iniciais para a química orgânica nos planetas. Essa química é um passo importante para as origens da vida”, disse Karin Öberg, uma astroquímica da CfA e coautora do estudo. “Com base em nossa descoberta, os organo-halogenados provavelmente serão um constituinte da chamada ‘sopa primordial’, tanto na Terra jovem como em exoplanetas rochosos recém-formados”.
Os pesquisadores também observam que a abundante presença de organo-halogenados em torno de uma estrela parecida com o nosso Sol demonstram que a química orgânica presente no meio interestelar envolve halogênios, que anteriormente não era conhecido.
Além disso, ALMA e Rosetta detectaram essa molécula em proporções de abundância semelhantes. Uma vez que os cometas são remanescentes da formação do nosso sistema solar e retém uma impressão química desta época, as novas observações sustentam a ideia de que um jovem sistema solar pode herdar a composição química da sua nuvem formadora de estrelas.
“Isso, no entanto, levanta a questão: quanto do conteúdo orgânico do cometa é herdado diretamente dos primeiros estágios da formação estelar?” disse Fayolle. “Pesquisas adicionais para organo-halogenados em torno de outros sistemas protoestelares e cometas precisam ser realizadas para ajudar a encontrar a resposta”.
Referências: Nature