Ser humano: o meteoro da modernidade

Imagem de Capa: EFE/Marcelo Sayão

É legal escrever aqui no blog sobre visões que as pessoas tem sobre biologia e muitas vezes estão erradas de acordo com o que a ciência sabe. Um assunto que tenho visto muito por aí, com muito sensacionalismo, é a extinção de espécies.

Uma espécie é considerada extinta se não há mais nenhum espécime a ela pertencente vivo. Obviamente aí entra o problema das espécies ameaçadas de extinção. De acordo com a IUCN (International Union for Conservation of Nature, ou União Internacional para a Conservação da Natureza, em português), são três as categorias de ameaça: em perigo, criticamente em perigo e extinto na natureza. Essa categorização facilita na hora de bolar estratégias e estabelecer prioridades para conservar a fauna e flora.

Mas extinção é algo necessariamente ruim? Ouvimos muito que o mico-leão-dourado, o lobo-guará, o urso panda e tantas outras espécies estão ameaçadas e nos comovemos com a ideia de que, se não tomarmos as medidas necessárias, elas deixarão de existir para sempre. A realidade é que a extinção é a regra para a as espécies, não a exceção. As espécies são extintas porque não são mais suficientemente adaptadas para viver nos ambientes que uma vez ocuparam com facilidade. É assim que funciona a evolução. Parece estranho, mas a diversidade de espécies que encontramos no planeta hoje representa menos de 1% do total de espécies que um dia já ocupou a Terra. Estima-se que já existiram cerca de 5 bilhões de espécies ao longo das eras geológicas, enquanto que hoje acredita-se que o número esteja em torno de 10 a 14 milhões, sendo que destas aproximadamente só 15% foram descritas até agora.

Isso então significa que não devemos nos preocupar com as espécies ameaçadas de extinção hoje? Se essa pergunta for feita pra um paleontólogo e pra um biólogo da conservação, com certeza respostas que refletem pensamentos distintos irão surgir. Por que nos preocupamos com espécies ameaçadas? Por causa da sua importância ecológica? Pela importância da sua existência em si? Por sermos culpados por destruir seu nicho ecológico? A área da biologia da conservação reconhece a importância dessas perguntas, mas não se preocupa muito em respondê-las, somente em preservar e conservar as entidades biológicas que estão vagando por aí.

Do outro lado, com certeza o paleontólogo vai levar a visão da extinção como algo natural e intrínseco à condição de espécie. Mas qual visão deve prevalecer entre a comunidade científica? É certo que a espécie Homo sapiens é produto da evolução, e tão natural tal qual todas as outras, e também vai se extinguir um dia, como todas as outras. Com certeza também esta não é a primeira vez que uma espécie causa a extinção de outras espécies. No entanto, talvez seja a mais significativa.

O ser humano tem um impacto tão grande no planeta, e uma enorme capacidade de modificar o espaço ao seu redor, que cientistas estão chamando o período geológico atual de Antropoceno. E é nele que está acontecendo a sexta grande extinção em massa de que se tem notícia. Sim, é pra botar na conta do ser humano mesmo. As extinções em massa são eventos raros na história do planeta, e são caracterizadas pela perda de pelo menos 75% das espécies em um período geológico curto. Esse fenômeno aparentemente só perde pra extinção em massa do final do Cretáceo,quando foram extintos os dinossauros não-avianos (sim, aves são dinossauros, mas isso fica pra outro texto).

Resumindo, extinção é uma coisa horrível, tenebrosa, catastrófica e digna de luto? Não. Devemos nos preocupar com ela? Sim. Somos culpados por muitas extinções? Com certeza. Qual é o papel do ser humano nisso tudo? Reconhecer que somos responsáveis pela modificação dos ambientes e consequente extinção de espécies e tomar medidas que promovam a sustentabilidade no planeta. Se não pelo altruísmo inocente de reconhecer o valor em outras vidas, pelo menos pra manter o equilíbrio ecológico e em última instância salvar nossa própria pele.

Para mais informações:

https://en.wikipedia.org/wiki/Conservation_status

http://www.iucnredlist.org/

https://en.wikipedia.org/wiki/Extinction#Mass_extinctions

https://en.wikipedia.org/wiki/Holocene_extinction#Recent_extinctions_-_1500_onwards

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