Pesquisadores do Pará estudam modelo de estresse pós-traumático e mecanismos envolvidos no seu desenvolvimento
Imagem de Capa: Creative Commons [Flickr, Battling PTSD, May 24, 2010]
O Transtorno do Estresse Pós-Traumático é caracterizado por respostas de ansiedade e estresse após um evento extremamente traumático, e são extremamente comuns entre ex-soldados, vítimas de bullying e vítimas de estupro ou abusos sexuais. Pessoas com TEPT (Também conhecido pela sua sigla em inglês, PTSD) podem revisitar constantemente o trauma em suas memórias, apresentarem crises de ansiedade e diversos sintomas físicos, como tonturas e distúrbios do sono. Entender as bases do transtorno é essencial para desenvolver novas e mais eficazes formas de tratamento, e uma das ferramentas mais poderosas para o estudo de qualquer transtorno ou patologia é o desenvolvimento de um modelo animal adequado, que seja de fácil indução, similar ao transtorno em humanos, e barato o suficiente para ser utilizado em larga escala.
Transtornos psicológicos e psiquiátricos como o TEPT são particularmente complexos de serem reproduzidos em modelos animais, devido à complexidade dos processos neurais humanos. Felizmente, existe um animal com uma neurobiologia bastante próxima à do ser humano, utilizado Há anos em pesquisas na área da neurobiologia: O Zebrafish. Além disso, pesquisadores já determinaram um conjunto de respostas em roedores e peixes que se assemelha ao TEPT humano e, assim, pode ser utilizado como modelo experimental. Trata-se da chamada “sensibilização dependente de tempo” (“Time-dependent Sensitization”, TDS), onde, após sofrer um estímulo estressor forte e inescapável, o animal torna-se “mais sensível” outros estímulos, mesmo inócuos, e passa a apresentar sinais de ansiedade e estresse.
É aqui que entra o trabalho da equipe de pesquisadores do Pará, representados junto ao mural pelo pesquisador Caio Maximino de Oliveira, Professor na Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará. Em um artigo publicado pelos pesquisadores em 2015 no periódico Pharmacology, Biochemistry and Behaviour, eles testaram um novo modelo de indução do “TEPT animal” através da utilização de uma “substância de alarme” produzida pelo próprio peixe, e utilizando este modelo, exploraram um possível mecanismo envolvido na consolidação deste comportamento pós-traumático, e descobriram que o Óxido Nítrico parece exercer um papel neste processo. O óxido nítrico é um transmissor bem diferente, porque é um gás; assim, ele se difunde mais facilmente no cérebro, agindo sobre várias regiões ao mesmo tempo. “Quando expusemos esses animais a um estímulo de medo, eles apresentaram sinais de ansiedade mesmo 24 h após o estímulo cessar”, afirmou Caio ao Mural. Essa sensibilização, no entanto, não aconteceu quando os animais eram tratados com uma droga que impede a produção do óxido nitrico. Esta conclusão indica um possível mecanismo envolvido no PTSD humano que, se comprovado, pode se tornar uma potencial via de tratamento. Esse trabalho fez parte da tese de doutorado da professora Monica Gomes Lima, da Universidade do Estado do Pará, orientada pelo professor Anderson Manoel Herculano, da Universidade Federal do Pará.
Em 2016, os pesquisadores continuaram esse estudo, aprofundando-se na eficácia do modelo experimental através da substância de alarme. No paper, publicado na Behavioural Processes, os pesquisadores demonstraram que a exposição dos peixes à substância de alarme foi capaz de induzir o comportamento de TDS (ou seja, semelhante ao TEPT). O comportamento só foi observado em uma parcela dos animais, mas isso não é um mal sinal. “[No trabalho] descrevemos um pouco melhor essas alterações comportamentais […] que afetam gravemente só uma parcela dos animais, da mesma forma como um trauma só produz o transtorno em uma parcela dos seres humanos.”. Contou o Dr. Caio. Desta forma, o modelo apresenta-se como uma valiosa ferramenta para o estudo do TEPT – e comportamentos semelhantes – em animais, que dessa forma, fornecem pistas para futuros estudos em humanos. “Especulamos que essa disparidade possa se dever a diferenças no sistema nitrérgico do animais, o que poderia dar uma pista sobre o papel desse gás na vulnerabilidade ao TEPT”, contou a Dra. Monica.