Nós e um problema chamado bioética

Imagem de capa: Autor desconhecido, extraída de Huffington Post

A natureza humana é curiosa. Pode ter certeza que foi daí que surgiu a ciência. A curiosidade gera o conhecimento, e assim acaba movendo a tecnologia, o progresso, e também acaba encontrando respostas que não sabemos muito bem pra que servem, se é que servem pra alguma coisa. Isso tudo é ótimo, mas vamos abordar um tema mais complicado. Até que ponto nós, seres humanos, temos o direito de fazer ciência pra gerar tecnologia, progresso e sanar nossa curiosidade? Ora, que pergunta boba. Boba até lembrarmos que muito do que é feito na ciência é obtido com a morte de outros seres vivos. Então, até que ponto temos esse direito de tirar a vida pra sanar nossa curiosidade? Que tipo de propósito é esse?

O ramo da biologia que se dedica a essa questão é a bioética. O conceito de senciência é essencial para essa discussão dentro desse âmbito. A senciência é a capacidade de sentir sensações, e consideramos que os animais capazes de perceber estímulos externos e a eles responder são sencientes, o que inclui praticamente todos os animais, com a exceção óbvia das esponjas.

Mas afinal, por diabos então nós fazemos pesquisas com animais? O desenvolvimento de tecnologias, fármacos e o entendimento da fisiologia geral dos animais é necessário para que possamos curar doenças humanas. E tem muita gente que sofre com essas doenças. Seria justo também deixar pessoas sofrendo e morrendo sabendo que temos os meios de arrumar isso? O que vale mais: a vida e sofrimento humanos ou dos outros animais? Tem ainda aqueles que falam “E os presidiários?”. Bom. Não vou nem comentar porque não sou obrigada. [Nota do editor: Mas eu vou. Mesmo se forçássemos os presidiários do mundo todo à serem cobaias – o que seria uma violação ética absurda – nós dificilmente teríamos cobaias suficientes para suprir pesquisas por um ano sequer]. Só acho que quem pensa que vida e sofrimento humanos de pessoas que foram empurradas pros caminhos errados da vida devem ser jogados no lixo deveria repensar algumas coisas.

Foram criadas muitas regras e regulamentações para o uso de animais pelos cientistas. Deve-se utilizar o menor número possível de cobaias, e os experimentos devem ser planejados para evitar ao máximo dor, sofrimento, estresse e prejuízos duradouros aos bichos. Sem contar que todos os projetos de pesquisa com experimentos em animais devem passar por um comitê de ética que julga cada caso. Isto tudo é assegurado por leis, mas nem tudo é um mar de rosas. A legislação brasileira, por exemplo, só valida essas regras para animais vertebrados. Ou seja, todos os outros animais (com sistema nervoso sim, diga-se de passagem), por exemplo os insetos, não são contemplados por essas regulamentações, e os pesquisadores podem, basicamente, fazer quaisquer tipos de pesquisas com eles.

Pra finalizar (ou começar?), a pesquisa com animais é algo que deve ser observado com muito cuidado. A necessidade dessas pesquisas precisa ser julgada com muito bom senso. Mas o fato é que hoje não temos tecnologia suficiente pra fazer produzir tecnologias e produtos seguros para uso humano sem o uso de cobaias animais antes de se fazer testes em pessoas. E ainda assim, às vezes o conhecimento que é produzido às custas de animais não funciona em seres humanos. Um posicionamento final? Hoje vou ficar devendo.

Para mais informações:

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-52732008000200010

https://pt.wikipedia.org/wiki/Senci%C3%AAncia

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