Cientistas criam a forma de vida mais simples possível
Imagem de capa: J Creig Venter Institute e Revista Science.
Quais são as características essenciais para a vida? Uma equipe de pesquisadores da Califórnia parece ter achado a resposta. Seu trabalho, publicado na Science no dia 25 de Março por J Craig Venter e sua equipe, foi o resultado de um trabalho de 20 anos, e descreveu a criação de uma célula sintética contendo apenas 473 genes. Para efeitos de comparação, estima-se que seres humanos possuam mais de 20.000 genes.
Essa busca começou há algumas décadas, quando a tecnologia de sequenciamento de genomas estava em seus primórdios. Ao analisar o genoma de duas bactérias extremamente simples, os pesquisadores se surpreenderam com as diferenças entre ambas – e perceberam que apenas um grupo de aproximadamente 250 genes era comum às duas espécies (que tinham, por sua vez, 525 genes e 1815 genes).
A primeira forma de vida criada pelos pesquisadores foi apelidada de Syn 1.0, em 2010. Para criarem-na, os pesquisadores começaram pela forma de vida mais simples conhecida na natureza – a bactéria Mycoplasmum mycoides. Então, começou um longo processo de remoção de genes individualmente, e observação do quão necessários eram para a manutenção da vida. A atual célula criada pelos pesquisadores é a Syn 3.0. O processo para chegar até a atual “forma de vida mínima” foi extremamente árduo, pois muitas vezes a importância de um determinado gene não era clara em um primeiro momento – apenas após sua remoção e muitos testes que se percebia que o mesmo não era redundante.

Bactéria Mycoplasmum mycoides, um dos mais simples organismos unicelulares encontrados na natureza, utilizado como molde para o Syn 3.0.
Mesmo assim, com paciência e determinação, os pesquisadores chegaram a esse resultado, e esperam transformar a Syn 3.0 em uma ferramenta de laboratório. A intenção da equipe é que a simpática célula seja utilizada para diversos fins, desde pesquisa até industriais – a partir deste modelo, pesquisadores poderiam produzir células que produzam determinadas substâncias de forma a comercializá-las.
A criação da Syn 3.0 também pôs em evidência o quanto a ciência ainda não conhece – dos 473 genes, 149 tem função completamente desconhecida pelos pesquisadores. São essenciais – a célula deixa de sobreviver e se replicar sem eles, mas sua ação biológica é uma incógnita. Isso é praticamente um terço do genoma essencial para a sobrevivência.
Essa pequena e revolucionária forma de vida ainda está bem longe de ver uma aplicação prática, mas é fascinante pela pergunta que ela responde – e pelas perguntas que ela causa. Acima de tudo, é a ciência sendo feita pelo seu propósito mais puro: Responder os mistérios do mundo que nos cerca.
Fontes: The Guardian, NPR