Quem é o verdadeiro culpado pelo discurso anti-vacinação?

Um legado inteiro de fatores políticos e sociais, muito mais do que pais desinformados, tem influenciado a decisão das pessoas em (deixar de) vacinar seus filhos, diz um estudo feito pela Universidade de Waterloo.

O estudo, que foi publicado no Canadian Medical Association Journal, mostra que um histórico de escândalos de drogas, práticas médicas e a falta de uma prioridade política a respeito da prevenção de doenças deu origem à apatia por imunizações, como conhecemos hoje por “campanhas anti-vacinação”.

“Nem tudo é responsabilidade dos pais”, disse Heather MacDougall, co-autora do estudo e professora de história na Universidade de Waterloo. “Nossa história revela problemas sistêmicos incluindo a falta de educação divergida ao público, falta de treinamento e, talvez ainda mais importante, falta de vontade política em implantar uma campanha nacional de imunização.”

MacDougall e o co-autor Laurence Monnais, da Universidade de Montréal, traçaram os primeiros vestígios relatados de recusas em adotar a vacina contra sarampo há três décadas antes de 1998, quando o infame artigo de Andrew Wakefield foi publicado, relatando uma conexão entre o autismo e as vacinas.

Este estudo mostrou que o fenômeno “anti-vacina” começou bem antes da década de 90, o que oferece um novo ponto de vista a respeito das forças por trás da popularização de ideologias do tipo. Os historiadores documentaram fenômenos parecidos desde 1960, como o desastre da talidomida em 1962, o surgimento de novos modelos de criação de filhos, a segunda onda do feminismo e a popularização da medicina alternativa.

Os surtos de sarampo entre 1970 e 1980 refletem uma mudança da responsabilidade individual para a coletiva a respeito de saúde pessoal e a promoção da mesma, de acordo com o estudo. Já nos anos 90, o foco nacional e internacional nos direitos das crianças fez jovens pais questionarem se seus filhos realmente se beneficiariam com as vacinas.

“Falta de informação no cenário sempre mutável da ciência da imunologia deixou o sistema de saúde canadense com pouco conhecimento para prover orientação ao público quando este cobrava explicações sobre os benefícios da vacinação”, disse MacDougall.

A divisão do sistema de saúde em poderes federais, regionais e territoriais criou uma fraqueza sistêmica para o consenso necessário para desenvolver um programa de imunização consistente e completo.

“Ao publicar esta pesquisa, o Canadian Medical Association Journal confirma a relevância de disciplinas humanas como história para auxiliar em entender fenômenos sociais como este diante de iminentes surtos de outras doenças,” finaliza MacDougall.

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Fonte da matéria: EurekAlert!
Fonte da imagem: CrônicasDeUmaFashionVictim

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