Ganância e ciência: seria hora de abandonar o Nobel?

Em um documentário publicado no periódico de De Gruyter chamado Clinical Chemistry and Laboratory Medicine, os autores Clare Fiala e Eleftherios P. Diamantis trouxeram à tona um debate que agora está sendo melhor discutido com recentes evidências.

Fiala e Diamantis levantam a afirmativa de que é hora de abandonar o Prêmio Nobel em favor de demonstrações alternativas de reconhecimento, que possam abraçar melhor a natureza colaborativa da ciência moderna.

No progresso científico, um Prêmio Nobel é um fator influenciador? Os autores do artigo acreditam que não. Os premiados com este título são reconhecidos por trabalhos feitos ao longo de dez, vinte ou até trinta anos atrás, quando o impacto de suas pesquisas e feitos ainda eram desconhecidos. Consequentemente, tal serviço à comunidade científica teria sido feito mais cedo ou mais tarde.

Ganhar um Nobel não é o mesmo que receber qualquer outro tipo de prêmio, e o único beneficiário do título é o próprio vencedor. Os vencedores portanto são instantaneamente reconhecidos como celebridades, universalmente renomados e notados como possuidores de uma criatividade e inteligência extraordinárias. São tratados com o mais intocado respeito e homenageados com posições de valor em quadros da indústria e governo, e seus obituários são honrados tanto na ciência quanto na natureza.

Enquanto muitos prestigiados com o título usam sua posição para influenciar a política da ciência e outras atividades, é questionável quão grande tal impacto realmente é. Em numerosas ocasiões, Nobeis acabaram partindo na direção contrária àquela na qual foram premiados, realizando trabalhos diferentes daqueles com os quais tiveram reconhecimento. Por exemplo, Linus Pauling, o ganhador do Prêmio Nobel de Química em 1954, proclamou os benefícios em ingerir doses absurdas de Vitamina C, dentre eles a cura do câncer. Não apenas essa conclusão errônea não ajudou a curar seus pacientes mas também levou anos de árdua pesquisa para ser contrariada e, então, provada falsa.

O Prêmio Nobel recompensa descobertas que produzem um impacto significante na sociedade, como novas terapias, procedimentos diagnósticos, metologias, etc. Contudo, a natureza da ciência implica que tais descobertas teriam sido feitas de qualquer jeito, embora com um atraso provável de um a dez anos. Alguns cientistas provam-se agora obcecados em descobrir algo antes dos seus colegas, mas tais descobertas também são destinadas a não serem alcançadas individualmente, e muitas vezes são feitas em simultâneo, com diversos outros laboratórios trabalhando em conjunto.

O comentário dos autores foi inspirado por uma discussão recente sobre a tecnologia CRISPR, digna de um Nobel nos anos anteriores. Um cientista altamente influente publicou sua perspectiva em 2016 descrevendo “os heróis da CRISPR”. Isso foi visto por muitos como um ato impetuoso, com o objetivo de influenciar o comitê da premiação, já que um dos colaboradores da descoberta pertencia ao seu instituto. Em resposta, outro pesquisador escreveu um livro com a sua versão do ocorrido. Essa disputa por um prêmio não se alinha com a ética da comunidade científica, que promove antes de mais nada a colaboração e colegialidade.

Quem eventualmente será nomeado ao prêmio pela descoberta da tecnologia CRISPR ou outras inovações? Isso não importa. Fiala e Diamandis sugerem que seus colegas deveriam discutir menos os méritos e sim estarem mais preocupados em humildemente reconhecer as contribuições individuais em favor do progresso da ciência.

Na opinião dos autores, já é hora de abandonar a premiação e encontrar uma forma de recompensa alternativa que valorize mais a humildade, colaboração e trabalho em equipe.

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Fonte da matéria: EurekAlert!
Fonte da imagem: Tum.de

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