A mentira que nossos olhos contam


A internet voltou a se dividir numa polêmica que envolvia o conjunto de cores vistas em um objeto, desta vez foi um tênis, a anterior um vestido. Muitas tentativas para explicar o que causava essa divergência foram dadas. Entretanto, se ao olhar o tênis você enxerga cores diferente das cores originais, você está sendo vítima de uma ilusão de ótica.

Uma ilusão de ótica existe quando a visão humana é confundida fazendo com que vejamos o inexistente ou objetos de uma maneira diferente, como é o caso de tênis. O ser humano estuda esse conceito a séculos. AlHiz (um físico árabe do século XI), Ptolomeu, Newton… Todos eles fizeram experiências envolvendo objetos coloridos, que ao serem rotacionados apresentavam cores distintas. Eram as primeiras ilusões de ótica criadas pelo homem. Com o passar dos anos esse estudo foi ficando mais complexo e aparelhos que simulavam situações improváveis com as imagens foram criados; artistas confundiam mentes de arquitetos com escadarias que ora subiam e ora desciam (Escher, um artista gráfico, holandês do século XX, projetava estas construções improváveis como a imagem à esquerda); pessoas comuns ficam estupefatas ao fotografar cenas impossíveis bem na calçada de casa (Edgar Mueller é um artista urbano do século XXI que pintou a “lava burst” vista na imagem à direita).

   

Mas afinal, o que faz com que o cérebro enxergue algo que não está ali exatamente? O olho humano constantemente cria ilusões para que o cérebro humano possa associar. É parte do trabalho dele passar informações ao cérebro que representem a realidade, mesmo que ele precise alterar isso. Por exemplo, se você está perto do seu carro ele parece suficientemente grande para você. Quando você está longe o suficiente, estica sua mão sobre o rosto e fica possível cobri-lo com o dedão. Isso é seu olho manipulando seu cérebro. Ele, basicamente, diminui o tamanho do carro para te dar a ideia de profundidade. Você sabe que seu dedão não é maior que seu carro porque seu cérebro guarda essa informação, mas ele está menor que o seu dedão quando está distante. Então ganha-a ideia de profundidade e seu cérebro consegue assimilar todo um ambiente tridimensional.

E não só com distâncias, mas o olho humano produz contrastes com a luz, para compreender melhor as cores e as sombras. O que está no escuro vai sempre parecer mais opaco, o que está exposto a luz mais forte parece mais forte. Só que o mesmo objeto não pode possuir duas cores diferentes. Essa é apenas uma resposta do olho humano à quantidade de luz que ele recebe. Quanto mais luz, mais ele transmite a informação de uma cor viva. Essa é a principal emboscada usada pela natureza, onde a fauna e a flora se confundem para enganar a presa (a imagem mostra uma Lagartixa-satânica, que tem aparência de uma folha).

Dessa maneira, as imagens transmitidas ao cérebro ganham perspectiva de tridimensionalidade e fica mais fácil compreender tudo que nos rodeia. Artistas usam essa ideia e criam ilusões de ótica para conquistar o público desde o século XVI e se tornaram bem populares com os surrealistas no século XX. Dá-se aos quadros e esculturas movimento, ambiguidade, figuras impossíveis, cores e formas diferentes e perspectiva dúbia. Atualmente, as ilusões de ótica são bem exploradas na fotografia (Li Wei, Josh Sommers e Miklos Gáal), esculturas e quadros (Anish Kapoor), arte performática (Alexa Meade – imagem ao lado) e arte urbana (Kurt Wenner, John Pugh e Edgar Mueller).

Nossos olhos não nós contam a verdade. Mas não se preocupe se não enxergar a cor certa do tênis, só  significa que seus olhos fazem um bom trabalho. Ou seja, não enxergar a verdade te permite ver a realidade.

FONTE: http://www.cienciamao.usp.br/tudo/exibir.php?midia=rip&cod=_opticahistorico-ilusoesd

Imagens retiradas da internet