União Europeia votará banimento de agrotóxico para o bem das abelhas

Em uma avaliação há muito aguardada, a agência de segurança alimentar da União Europeia concluiu que três inseticidas neonicotinóides representam um alto risco para abelhas e abelhas selvagens. As conclusões da Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) em Parma, Itália, aumentam as chances de que a UE logo se mova para proibir todas as utilizações dos inseticidas em culturas externas.

Em 2013, a UE proibiu as aplicações dos três produtos químicos em culturas atraentes para as abelhas – como o girassol, a oleaginosa e o milho – depois de uma avaliação da EFSA ter suscitado preocupação com os efeitos dos inseticidas. Desde então, os pesquisadores trouxeram mais evidências de danos para as abelhas, e a Comissão Europeia no ano passado propôs a proibição de todos os usos ao ar livre, enquanto ainda permitia os pesticidas em estufas. A última avaliação da EFSA fortalece a base científica da proposta, diz Anca Păduraru, porta-voz da Comissão Europeia para a saúde pública e segurança alimentar. Os Estados membros da UE podem votar sobre o assunto, o mais rapidamente possível, em 22 de março.

Os neonicotinoides são altamente tóxicos para os insetos, causando paralisia e morte, interferindo no sistema nervoso central. Ao contrário dos pesticidas que permanecem nas superfícies das plantas, os neonicotinoides são absorvidos em toda a planta – nas raízes, caules, folhas, flores, pólen e néctar.

No Brasil, o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente) restringe o uso desses inseticidas na agropecuária – principalmente nas culturas de algodão, soja e trigo. Em 2012, foi proibida a aplicação por aviões dos agrotóxicos imidacloprido, tiametoxam, clotianidina e fipronil.

A avaliação da EFSA abrangeu os três neonicotinóides de maior preocupação para a saúde das abelhas – imidacloprido, tiametoxam e clotianidina. A agência considerou mais de 1.500 estudos, incluindo toda a literatura científica relevante, e dados da academia, empresas químicas, autoridades nacionais, ONGs e associações de apicultores. A avaliação constatou que os três produtos químicos representavam pelo menos um tipo de alto risco para as abelhas em todos os usos ao ar livre.

A agência descobriu que as abelhas operárias estão expostas a níveis nocivos de resíduos de pesticidas em pólen e néctar de campos tratados e áreas contaminadas nas proximidades, bem como em poeiras. Também concluiu, com base em evidências mais limitadas, que os neonicotinóides às vezes podem persistir e se acumular no solo e, portanto, podem afetar gerações de culturas plantadas e abelhas que se alimentam delas.

No Brasil foi encontrado presença de inseticidas em amostras de mel provenientes de quatro localidades.

“O conselho da EFSA é muitas vezes criticado por partes interessadas, como ONGs e empresas, mas esta é uma boa demonstração de como a EFSA fornece conselhos cientificamente sólidos e imparciais”, diz José Tarazona, chefe da unidade de agrotóxicos da agência.

Um porta-voz da Syngenta, que produz neonicotinoides, diz que as conclusões da EFSA são excessivamente conservadoras: “quando os reguladores tomam decisões sobre produtos de proteção de culturas, o que importa é ciência, dados e que os processos em vigor sejam respeitados e que o interesse público seja servido […] qualquer outra restrição baseada nesse relatório seria mal concebida”.

Os Estados membros da UE estavam agendados para votar na proposta de proibir os usos ao ar livre em 13 de dezembro, mas foi adiado em parte porque muitos queriam esperar até que a EFSA concluísse sua avaliação.

Os Estados da União Europeia planejam discutir a avaliação da EFSA em uma reunião do Comitê Permanente de Alimentos para Animais e Plantas Alimentares da Comissão em algum momento de março, diz o Păduraru da CE. “A proteção das abelhas é uma questão importante para a comissão, uma vez que diz respeito à biodiversidade, à produção de alimentos e ao meio ambiente”.

 

Referência: Nature

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