Uma Resposta a Ricardo Felício Sobre o Consenso Científico do Aquecimento Global
Veja versão em vídeo, caso prefira:
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Nessa semana, vozes negacionistas do aquecimento global – e, mais especificamente, do papel do homem no aquecimento global – tem ganho espaço na mídia digital, sobretudo na figura do professor da USP Ricardo Felício, re-acendendo no meio leigo (mas não no acadêmico) a discussão sobre o aquecimento global e o papel do homem no mesmo. Assim sendo, senti a necessidade de fazer um texto rápido sobre o assunto.
Não cabe à mim, nesse momento, discorrer sobre as evidências à favor do aquecimento global. Me falta estudo na área para ser capaz de resumi-las de forma concisa e clara. Existe material na internet feita por gente mais capacitada que eu para o assunto. O que eu posso fazer, porém, é discorrer sobre um assunto que eu entendo um pouco – consenso científico, como ele funciona, e qual o seu peso.
Diversos estudos já foram realizados investigando o consenso entre cientistas do clima sobre o aquecimento global antropogênico (Que será referido daqui em diante como AGA), bem como uma revisão de dados da literatura. No gráfico abaixo, temos alguns desses diversos estudos de consenso, mostrando a porcentagem de concordância que eles encontraram.

Estudos sobre a concordância científica do aquecimento global antropogênico
Oreskes 2004, um dos mais famosos, publicado na Science, uma das publicações de maior credibilidade no mundo (E que, portanto, só aceita trabalhos sólidos e de confiança), fez uma revisão de artigos sobre o tema “Mudança Climática Global”, e não encontrou nenhum se posicionando contra o AGA. Doran 2009, por sua vez, realizou uma consulta à mais de 3 mil pesquisadores, perguntando-os se eles acreditavam “Que a atividade humana seja um fator significante contribuindo para o aumento das médias de temperaturas globais”. Entre todos os cientistas consultados, 82% disseram que sim – porém, quando se excluíam aqueles que não eram pesquisadores da área de climatologia, e aqueles que eram mas que não publicavam com frequência na área, o consenso subia para 97%. Ou seja, eram os não-especialistas e os especialistas improdutivos que estavam puxando a média para baixo.
Andregg 2010 também avaliou pesquisadores da área que haviam assinado publicamente manifestações contra ou a favor do consenso. Novamente, 97% dos pesquisadores haviam se posicionado favoravelmente ao consenso do AGA. Além disso, Andregg e sua equipe descobriram que a quantidade de publicações média por cientista do grupo que se manifestava contra o AGA era de menos da metade do número daqueles que eram favoráveis ao AGA. Ou seja, os pesquisadores pró-AGA eram, de forma geral, mais produtivos e engajados na pesquisa do que os anti-AGA.
Cook 2013 chegou numa figura semelhante – 97% de artigos que se posicionam a respeito da questão concordam com o AGA, dentro da literatura. Os pesquisadores desses papers foram contactados e solicitaram que eles mesmos confirmassem se seu artigo era à favor ou contra o aquecimento (Invés de ficar apenas com a análise de Cook e sua equipe). O resultado? 97% à favor.
E esses 3% contra? Cook retornou em 2016 para se debruçar contra eles. O que ele descobriu é que a maioria destes sofre de erros metodológicos – ignoram evidências presentes em outros estudos ou às vezes nos próprios, possuem informações faltantes para sustentarem suas conclusões, entre outros.
Não existem dúvidas – a comunidade científica internacional está convencida de que o Aquecimento Global Antropogênico é uma realidade.
E porque isso é importante? Porque, via de regra, o Consenso Científico nos dá o fato sobre um determinado assunto. É importante entender que algo não é verdade porque é consenso científico; é o contrário! Algo se torna Consenso Científico porque é verdade, por ter um acúmulo de evidências tão opressivo que se torna impossível para os cientistas da área – criaturas céticas e desconfiadas por natureza e necessidade – negar que aquele fato é real.
Dizer que o aquecimento global antropogênico é consenso entre 97% dos pesquisadores significa afirmar que as evidências até agora reunidas, coletadas e analisadas convenceram 97% da comunidade científica. Negacionistas são livres para tentar mudar esse consenso, trazendo novas evidências que o desafiem – isso é saudável, e é como a ciência funciona. Porém, isso é feito dentro da ciência, publicando artigos em periódicos científicos internacionais de relevância. Estudos sólidos geram artigos sólidos, que conseguem ser publicados nos melhores periódicos; ao mesmo tempo, estudos mais fracos são barrados desse grupo de revistas de ponta devido às suas falhas (Sejam metodológicas, lógicas, ou filosóficas/científicas – como exagerar as conclusões), e acabam sendo publicados em revistas mais fracas, de menor credibilidade e relevância.
O Consenso Científico está aberto à mudanças – a ciência é dotada de um mecanismo de auto-correção, e é isso que faz dela uma ferramenta tão valiosa. O Consenso Científico não é um ponto de encerramento, e sim um ponto de partida – ele indica um conhecimento que virtualmente todos os pesquisadores concordam ser verdadeiro e sustentado por toneladas de evidências podendo, portanto, servir de base para pesquisas futuras. Mas mesmo ele pode ser desafiado. Porém, essa mudança só ocorre se os estudos subsequentes forem de qualidade e mostrarem de maneira sólida que o que se pensava antes estava errado. Façam isso, e vão mudar o consenso científico. Convençam a academia, e um Nobel os espera. Mas não tentem convencer o público leigo. Isso é tentar burlar o caminho natural da construção do conhecimento. Convençam a ciência, e a ciência convencerá o público.
Deixo aqui como fonte esse texto do Skepitcal Science, que ajudou bastante com uma listagem e explicação compreensiva dos estudos que abordei acima.
Consenso?!? Os alarmistas não conseguem apresentar um (UM!!!) cientista sério que refute a posição de Ricardo Felicio e Molion
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O texto literalmente mostra que 97% de todos os cientistas são contrários à posição do Ricardo e do Molion.
Isso são milhares de cientistas.
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Bom texto. Me auxiliará em algumas respostas.
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Prezado Lucas,
sou a favor do aquecimento global antropogênico e quase todos os cientistas são unânimes. Parabéns pelo Blogue! Caso queima postar um artigo original meu em seu blogue fique à vontade. Segue um poste sobre a crença das pessoas em inexistentes, sic: https://rcristo.com.br/2019/08/15/o-fim-das-crencas-em-inexistentes-e-inevitavel/
Dica: atualize seu WordPress e vincule os botões para que outros blogueiros possam repostar seus postes tanto no WordPress quanto em outras redes sociais. Abs.
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Se a terra está mesmo aquecendo…se os oceanos estão subindo o nível de água, por causa do derretimento das geleiras. Porque diabos Al Gore, entusiasta do aquecimento, comprou uma mansão a beira mar na california por 20milhões de dólares?
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Até onde eu vi, a casa do Al Gore não está em uma zona que seria afetada pela elevação prevista. (A casa tá 600 pés acima do nível do mar; o aumento que o Al Gore fala é da casa dos 10 pés).
De qualquer forma, mesmo que você estivesse certo, a decisão burra de um milionário não influencia a veracidade de uma teoria científica. O aquecimento global não é real por causa do Al Gore e sim por conta dos estudos de virtualmente todos os climatologistas.
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Pouco inteligente é quem acredita em aquecimento global.
O aquecimento global é uma HIPÓTESE. Não há evidencias suficientes sequer para formular uma teoria. Hipótese ainda infinitamente mais remota é a de que esse suposto aquecimento seja antropogênico.
Al Gore não é nada burro. Ficou bilionário com a maracutaia da bolsa de carbono.
Por que tu não falas disso Lucas?
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Absolutamente falso. O aquecimento global é uma teoria científica extremamente bem-comprovada. Todos os dados apontam para ela e ela é consenso entre os especialistas, como eu provo no texto.
Não tô nem aí pro Al Gore. Ele não fala pela comunidade científica, tampouco a veracidade do aquecimento global depende de qualquer fala ou ação dele.
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Esperava refutação com argumentação cientifica, mas o que foi proposto foi convencer aos negacionistas com essa ideia de consenso. Então, esse é o argumento 97%x 3% e ponto, estamos vonvencidos. Que tal tentar refutar ponto a ponto Molion e Felicio. É possível???
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A argumentação é científica. Você precisa entender o papel do consenso científico na formação do conhecimento.
Quanto à refutação “ponto a ponto”, tenha paciência. Irei fazer mais textos sobre aquecimento global no futuro.
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Pingback: Sobre o Consenso do Aquecimento Global – Resposta a Nando Moura | Mural Científico
Lucas Rosa
Estava procurando algum artigo sério na internet para contrapor à entrevista do professor Ricardo Felício ao Jô Soares e encontrei o seu texto. Achei uma desonestidade a fala desse professor, ainda que eu não seja da área, tudo que eu assisti e li sobre o tema demonstrava evidências da ações do homem no aquecimento global antropogênico. Li também a sua resposta a ele, aqui nos comentários.
Gostaria de agradecer pelo seu texto e também pela paciência de responder a essas pessoas que, embora tenham educação formal, navegam em uma onda de antiintelectualismo, na maioria das vezes com objetivos claramente políticos.
A ciência é feita a partir de evidências e rigor científico, não de obscurantismo e falácia.
Infelizmente acredito que temos muito a perder com a ascensão desse discurso que nega a ciência.
Abraços
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Fico feliz que tenha gostado, Luann. Um abraço 🙂
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Lucas, parabéns pelo texto, mas acima de tudo, parabéns pela paciência de responder didatica e educadamente questões colocadas às vezes de maneira agressiva e tendenciosa.
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Não “acredito mais” na hipótese do AGA !!!
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Não existem crenças em fatos, amigo.
Ninguém aqui acredita no AGA. Nós sabemos 🙂
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Varios que provaram teorias foram contra a maioria, são somente duas teorias, uma não é baseado na fisica e fatos comprovando os estudos ao longo da historia a outra sim.
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Tem que se tomar cuidado com essa retórica. Quando embasado por evidências, a minoria rapidamente converte a maioria. A ciência não é dogmática.
O consenso é justamente o reflexo da existência ou inexistência de evidências em favor de uma teoria ou de outra.
E sim, uma (o negacionismo) não é baseada na física e nos fatos ao passo que a outra (aquecimento antropogênico) o é.
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Prezado,
Não sou cientista e não conheço sobre mudança climática, portanto não tenho gabarito para entrar nesse debate, ainda que tenha, claro, minhas opiniões.
Entretanto, alguma coisa sobre política eu absorvi nos meus anos vividos: nada, nada está fora da política.
E nesse caso, em especial, por que outro motivo teríamos os impostos ambientais?
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Olá Sílvio! Você não está errado. Quando eu digo que a discussão não deveria ter sido politizada, eu digo no sentido que ser contrário às pautas climáticas não deveria ter se tornado “dever” imposto à quem é de direita aqui no Brasil. Isso está errado – os fatos não tem orientação política, e proteger o planeta deveria ser uma prioridade dos dois lados do espectro político.
E vale lembrar que quem politizou o debate foram os negacionistas. O negacionismo climático nasceu em think-tanks conservadores nos EUA e isso é bem documentado (livro “Merchants of Doubt”, da historiadora Naomi Oreskes). O movimento negacionista nasceu para proteger o capitalismo de uma crítica (o fato que esse sistema parece ser incompatível com a manutenção do meio-ambiente). Colocaram ideologia acima da vida na terra.
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Perdão Lucas. Só pra ver se eu entendi: o negacionismo é um ato de cientistas da direita e foi criado para proteger o capitalismo de críticas. Então, não seria possível que muitos cientistas da esquerda emitissem suas opiniões para que não perdessem patrocínio de projetos e pesquisas?
Pergunto, pois a explicação que você deu no início do post, ainda que muito eu não tenha entendido, ficou claro, para mim, que eu devo acreditar no aquecimento global pois muitos cientistas estão dizendo isso.
[ ]s
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Não exatamente “um ato de cientistas de direita” – novamente, fatos não tem orientação política. O que estou dizendo é que os esforços estruturados do negacionismo do aquecimento – e as táticas que eles usam (fugindo do debate científico e tentando levá-lo ao público leigo) – foram criados por think-tanks conservadores americanos com um propósito ideológico (e não científico/factual).
Sobre “medo de perder patrocínio de pesquisas”: Cientistas não tem medo de ir contra a maré. Os maiores prêmios na ciência estão reservados para os que provam que todos os outros estavam errados. Essa visão de ciência como uma entidade reacionária é errada. A questão é que, naturalmente, questionamentos tem que ser embasados por evidências.
>ficou claro, para mim, que eu devo acreditar no aquecimento global pois muitos cientistas estão dizendo isso.
Não exatamente. Primeiro que não há crença em fatos. Todos devem aceitar o aquecimento global como realidade porque é isso que as melhores evidências obtidas demonstram. A existência de um consenso científico é o reflexo, não a causa, dessa força de evidências – esse consenso não é votação de opinião e sim conclusão embasada nos dados, de acordo com os maiores especialistas no assunto. Uma teoria só se torna um consenso tão esmagador se possuir evidências fortíssimas que a sustentem; é o caso do Aquecimento Global antropogênico.
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OK!
Abraços
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Todo o texto não chega ao ponto em questão. PROVAR QUE O CO2 CONTROLA O CLIMA DA TERRA. Todo o resto não passa de politicagem e é claro, adoram me difamar. O senhor Lucas poderia me passar a prova? Fico aguardando!
Ciência de verdade, passa pelo método científico. Não usa consenso e muito menos princípios jurídicos.
IPCC não faz trabalho científico. Pelo seu texto fica notório que você não sabe de como funciona o IPCC.
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A intenção do texto não era provar que o CO2 controla o clima da Terra, e sim provar que existe um consenso acadêmico inegável aceca do assunto.
Dito isso, o CO2 controla sim o clima da terra. Naturalmente, não tenho problemas de compartilhar com o senhor alguns trabalhos da literatura extensa que existe sobre o assunto. Nosso propósito é ensinar! 🙂
Antes, porém:
1- Não houve difamação; a única menção do seu nome é na introdução, onde essencialmente apenas afirmo que o senhor estava ganhando destaque nas redes sociais naquela semana (O que ocorreu – foi na época das suas entrevistas ao canal Nando Moura). O senhor está me acusando de um crime e isso é algo extremamente sério.
2- Explico de maneira bem didática, no texto, o papel do consenso científico. Ele é indissociável do método e do processo científico. Ciência é, sempre foi e sempre será o processo pelo qual especialistas de uma área debatem acerca de fenômenos, propõem explicações, as testam, avaliam as evidências e chegam à uma conclusão coletiva, que exprime a melhor resposta que a área possui para aquele fenômeno naquele momento. A medida das forças das evidências e das conclusões que derivam delas é seu poder de convencimento sobre esses especialistas. Ou, de forma menos rebuscada: O consenso científico é a forma de medir a força de uma teoria. Minimizar sua importância é minimizar todo o processo científico, de tentar fornecer validade para teorias que não são aceitas justamente por falta de evidências que as sustentem.
3- O IPCC sintetiza o conhecimento da área em seus relatórios. Se por “não faz trabalho científico” o senhor quer dizer “Não realiza pesquisas originais”, o senhor está correto. Isso não muda o fato que eles são uma autoridade no assunto, que o painel é composto por grandes especialistas da área, e que seus relatórios são excelentes revisões. E esses relatórios concordam, de maneira retumbante, com a realidade do aquecimento global de origem antropogênica.
Agora aos trabalhos:
Uma revisão recente, sobre impactos do aquecimento global – https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S136403211100459X
“Scientists state unequivocally that the earth is warming. Natural climate variability alone cannot explain this trend. Human activities, especially the burning of coal and oil, have warmed the earth by dramatically increasing the concentrations of heat-trapping gases in the atmosphere” (No paper há gráficos explicitando a correlação entre níveis de CO2 na atmosfera e aumentos na temperatura média da superfície global, extraídos de diversas fontes)
https://ams.confex.com/ams/Annual2006/techprogram/paper_100737.htm – Um trabalho, pelo que entendi apresentado em congresso, que mediu a contribuição de diversos gases, incluindo o CO2, e estabelece uma evidência experimental direta do papel do CO2 (e outros gases) no aumento das temperaturas.
https://www.nature.com/articles/35066553 – uma análise de toda a radiação “long-wave” que deixou a Terra entre os anos 70 e 2000, bem como a contribuição de cada gás para esse processo (Naturalmente, reduções na emissão de radiação significa que essa energia está ficando presa aqui no planeta, contribuindo para o aquecimento)
Acredito que esses artigos demonstram de forma bastante categórica o que o senhor deseja saber. Naturalmente são apenas a ponta de um iceberg de evidências, as quais tenho certeza que o senhor possui os meios para encontrar por conta própria.
Abraços e boa noite,
Lucas Rosa.
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Saindo do científico e considerando que:
– o Sol é a nossa fonte de calor e a humanidade terrestre não tem como mexer com ele,…
– a superfície da Terra é constituída em 70% de água e dos 30% restantes, sobra muito, sem a ocupação humana, da para ver isso no Google,… cidade como a grande SP, por exemplo, não passa de uma pequena mancha no mapa,…
– a atmosfera terrestre, mesmo contida na ação gravitacional, é muito dinâmica: sofre a ação de ventos, de vapores de água, de calor, de reações eletromagnéticas e bioquímicas…
Fico aqui pensando como a humanidade poderia produzir tamanha quantidade de “gases estufa” a ponto de criar um cobertor capaz de lacrar a expansão de calor do planeta ou de parte dele, devolvendo-o para o Cosmos,…?
Para entender, intuitivamente, a incomensurável dimensão planetária procure, também no Google, uma imagem natural da Terra e sinta o quanto a humanidade é incapaz de intervir no volume atmosférico que a circunda!… O aquecimento climático global, se é que existe, me parece algo cíclico do próprio sistema planetário!… não da humanidade!…
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Sim, poderia. Os dados mostram isso de maneira clara.
Não é uma questão de opinião, a gente tá literalmente medindo a temperatura e ela literalmente aumenta de maneira correlacionada ao CO2. E não tem nenhum mecanismo natural influenciando a temperatura da terra no momento, isso já foi estudado.
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Lucas,
O parabenizo por trazer, num blog, luz à Ciência, este tão maltratado pilar do saber. Mas no caso, o problema é que foi inventada uma nova ciência, a Mudança Climática, um quase pleonasmo, e hoje quiçá uma nova religião, extremamente dogmática, que não admite contestação. E para piorar, foi fundida com a política (IPCC, ONU) e aí chegamos onde estamos.
Diz o Michael Hart, não sem uma boa dose de razão, que “Os políticos estão despejando um dinheiro que não possuem em um problema que não existe, de modo a financiar soluções que não fazem a menor diferença.” Não estou aqui expressando uma opinião, científica ou não, mas tentando obter racionalidade, e uma das coisas que mais incomodam é o tal consenso científico, ou melhor, consenso entre os cientistas. A outra coisa que incomoda bastante é a tendência atual de cada um considerar seu o livre arbítrio uma licença para expressar as mais idiotas ideias pela Internet. Algo como achar que as leis da física não o representam…
O mais célebre e recente estudo sobre consenso dos cientistas sobre Aquecimento Global foi mesmo o de Cook et all e quero chamar sua atenção para uma refutação de peso (link ao final) e a muito acertada premissa que os autores expressam sobre o trabalho do Cook et all como um caso clássico da Agnotologia, que é o estudo de como a ignorância surge e é disseminada pela desinformação calculada para iludir.
A falha primordial do paper de Cook et all é a utilização, nada científica, de 3 definições para o consenso sobre Aquecimento Global;
a) A definição Não Quantificada, que seria “Nós estamos causando algum (some, no original) Aquecimento Global;
b) A Definição Padrão Quantificada, que seria “A atividade humana muito provavelmente (very likely, no original) está causando a maioria do atual aquecimento” (o Anthropogenic Global Warming, AGW));
c) A Definição Catastrófica, que seria “A nossa influência é perigosa o bastante para justificar uma `política climática”
Pois bem, o Cook reuniu quase 12 mil abstracts (11.944) utilizando os termos de pesquisa “mudança climática global” e “aquecimento global”, que seriam os 100% da base a analisar, e aí começam os problemas. Desses quase 12 mil abstracts, 7.930 (ou 66,4%) foram descartados por não expressar “nenhuma opinião”.
Dos restantes 4014, 3.896 abstracts (ou 32,6%) foram marcados como concordando que “nós causamos algum aquecimento”, a definição não quantificada.
Cook e sua equipe então marcaram 64 (sessenta e quatro) abstracts (ou 0,5% da base) que endossavam a Definição Padrão. Uma revisão minuciosa foi feita nesses 64 abstracts e foi constatado que somente 41 (quarenta e um) abstracts (ou 0,3%) efetivamente endossavam a definição padrão.
Sobre a terceira definição (Catastrófica), nenhum paper (0%) endossou a mesma.
E isso só foi possível confirmar no Trabalho do Cook pela pressão da comunidade científica ao instigar os autores ao fornecimento dos dados do trabalho (raw data), que foi disponibilizado algumas semanas após a publicação do trabalho.
Então, os 97% foram obtidos considerando como 100% os 4014 abstracts, sendo os 3896 abstracts que “endossaram” seriam então 97,1% – problema é que endossaram definições diferentes.
O consenso padrão, quantificado (51% no mínimo) de que o AGW é responsável pela maior parte do aquecimento global, de fato resume-se a 0,3%,
E viva a Ciência.
Grande abraço, Ricardo
( O link – http://climaterealists.org.nz/sites/climaterealists.org.nz/files/Legatesetal13-Aug30-Agnotology%5B1%5D.pdf )
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Olá Ricardo.
Vamos por partes
>Mas no caso, o problema é que foi inventada uma nova ciência, a Mudança Climática, um quase pleonasmo, e hoje quiçá uma nova religião, extremamente dogmática, que não admite contestação.
Isso está brutalmente incorreto. Primeiro porque “Mudanças Climáticas” não são “uma ciência” – é uma linha de pesquisa dentro da climatologia. Segundo, porque não, ela não é dogmática, mas é preciso entender que você não pode contestar algo só por contestar – dentro da ciência, uma contestação vem atrelada à evidências. As evidências que mostram a realidade das Mudanças Climáticas são extremamente sólidas, bem como as evidências que mostram que o ser humano é o responsável por esse processo. Já as evidências dos negacionistas são inexistentes, ou distorcidas.
O IPCC não é um órgão político – é um painel de cientistas especialistas no assunto, os melhores, de fato. É uma autoridade que precisa ser ouvida.
Quanto ao estudo de John Cook, ele já foi criticado, e algumas (poucas) dessas críticas são legítimas. Porém, você está ignorando o restante do conteúdo do artigo.
Primeiro, aqui está a defesa de Cook de boa parte das críticas que o artigo original recebeu: https://skepticalscience.com/97-percent-consensus-robust.htm
O segundo e mais importante ponto é que o resultado dele foi corroborado por vários artigos posteriores, feitos por outros grupos. Na ciência, a força de um dado surge quando ele é encontrado repetidas vezes por vários pesquisadores. E é isso que mostramos nesse nosso texto. O artigo do Cook não é o pilar-mãe de sustentação dos 97% – literalmente uma dezena de artigos encontrou figuras similares, a mais baixa ainda em torno dos 90%, usando metodologias diferentes. Portanto, mesmo que o artigo do Cook fosse inteiramente válido (E ele não é, os problemas metodológicos são gravemente exagerados, como foram por você em seu comentário), a figura de 97% de consenso é um resultado extremamente robusto.
Releia nosso artigo, leia o acima, e leia este também: https://www.skepticalscience.com/global-warming-scientific-consensus-intermediate.htm
O aquecimento global é um fato, é facilmente observável pelas medições de temperatura e sua correlação com as emissões de carbono. E o consenso de 97% de concordância entre climatologistas também é um fato (E é mais forte quanto maior o nível de especialidade e competência do pesquisador sendo avaliado, como também mostramos no nosso texto).
Abraços,
Lucas Rosa.
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O IPCC não é um político aí voce está brincando, O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, mais conhecido pelo acrônimo IPCC é uma organização científico-política criada em 1988 no âmbito das Nações Unidas pela iniciativa do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e da Organização Meteorológica Mundial
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O IPCC é composto de cientistas, não de políticos. É um órgão científico.
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Conheço um professor de física que sempre admirei, porem ele é anti-cientifico em questões climáticas, ele se diz aberto a novas evidencias, porem quando apresentei a ele artigos cientifico sobre o tema ele simplesmente parou de se comunicar comigo, não obtive respostas depois do tema abordado. Simplesmente lamentável a situação.
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Que triste =/
Honestamente, em pleno 2017, com o acúmulo de evidências atual, acho impossível ter uma dúvida esclarecida e honesta ainda com relação ao Aquecimento Global.
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Pingback: Climategate? Fraudes em Estudos de Aquecimento Global? Não é Bem Assim | Mural Científico
Funciona por consenso. Assim como o Eter, uma substância incolor, invisível que havia no espaço e assim era possivel a luz ser transmitida no “vácuo”.
Esse “consenso” foi inventado pq não sabiam explicar o fenômeno…. Quanta similaridade.
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O consenso muda quando chegam novos dados.
É só isso que convidamos os negacionistas a fazerem – Provem que estão certos. Convençam a academia.
Agora, o consenso do éter mudou, realmente. Mas o da evolução tá de pé, entre muitos outros. TODO conhecimento estabelecido é consenso na ciência – e está aberto à mudanças, dentro da ciência.
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Excelente texto. É triste existir um Dr. que use argumento de autoridade para convencer os leigos e “ridicularizar” os não leigos com os leigos. Triste existir um Dr. que precisa ter aulas de ética e como tirar conclusões da própria área de estudo.
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No quinto parágrafo, acredito que onde se lê “(…) era de menos da metade do número daqueles que eram contra o AGA”, na verdade, quer dizer “(…) era de menos da metade do número daqueles que eram a favor do AGA”
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Corrigido! Obrigado.
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A ciência e a natureza não funciona por maioridade votos.
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Na verdade, a ciência funciona em Consenso sim.
Como eu disse: O fato de haver um consenso científico significa que as evidências à favor do Aquecimento Global convenceram 97% dos especialistas.
Isso não acontece com um conhecimento errado, através do método científico. Pode acontecer, mas apostar nisso seria burrice.
Se os especialistas estão convencidos, porque você, eu ou qualquer outro leigo não devemos estar também?
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Relembrando: não são simplesmente “votos”, mas sim uma ampla gama de estudos com metodologia consistente que corroboram com o aquecimento global antropogênico. Não é achismo. Se você leu artigo, pode perceber que aqueles que não concordam com o aquecimento global antropogênico(ou qualquer aquecimento global) sofrem de graves erros metodológicos, além de publicarem os artigos em periódicos de pouco impacto, enviesados e de revisão duvidosa. Para verificar, entre no Lattes do Felício: verá meia dúzia de artigos publicados ao longo de uns 10 anos em periódicos minúsculos, duvidosos e escritos em português, portanto não são lidos e avaliados por muitos cientistas.
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Com certeza! Galileu era um contra todo o sistema. E a maioria dos alarmistas de hoje foi alcançada pelo boicote sistemático aos contrários. Lucas, menos crases por favor. Artigo meu:
https://gauchazh.clicrbs.com.br/ambiente/noticia/2018/10/flavio-feijo-descarbonizar-nao-e-preciso-cjnf3gumw068y01pirglzjgni.html
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As teorias de Galileu foram aceitas bem rápido e se tornaram consenso bem rápido entre os especialistas e estudiosos da época. Quem tentou censurá-lo foram as autoridades políticas e religiosas da época, não as autoridades científicas. Não é uma analogia adequada dentro do contexto de discussão do aquecimento global. Negacionistas climáticos não estão sendo censurados – eles simplesmente não tem embasamento empírico, e por isso seus trabalhos acabam sendo ignorados nas publicações de alto nível.
E realmente, crases são um problema constante na minha vida hahahaha.
Sobre o texto, Flávio, sinto muito, mas a credibilidade dele vai pro buraco quando você abre ele repetindo a mesma retórica negacionista de perseguição e censura (que não existe), e as coisas só pioram com o decorrer do texto. As afirmações de que o aumento do CO2 é consequência e não causa do aquecimento, e que esse seria natural, também não são válidas, e você as transmite em seu texto como se fossem fato comprovado dentro da ciência, o que absolutamente não é verdade (https://www.skepticalscience.com/global-warming-natural-cycle.htm e https://www.skepticalscience.com/co2-increase-is-natural-not-human-caused.htm). A relação entre eventos climáticos extremos e o aquecimento global também é muito bem estabelecida – o aquecimento aumenta os fatores de risco que podem resultar nesses eventos (https://www.skepticalscience.com/extreme-weather-global-warming.htm).
O texto então cai na discussão dos combustíveis fósseis, e esse parágrafo me transmite uma certa (e preocupante) pequenez de pensamento. “É o que tem pra hoje” é uma péssima postura pra se ter, e ninguém tá falando que temos que abandonar pra amanhã os 100 mil vôos. O que se prega é que os países comecem a investir mais dinheiro no aperfeiçoamento de novas formas renováveis de energia, de forma a conseguirmos, no futuro, abandonar os combustíveis fósseis sem sofrer perdas de eficiência. Nesse meio tempo, precisamos controlar o uso dos combustíveis fósseis para reduzir a emissão de poluentes, o que não significa abandoná-los, e sim substituir ONDE e SE for possível, e optimizar quando/se não for.
Por fim, a afirmação que vulcões emitem mais CO2 que humanos é factualmente incorreta (https://www.skepticalscience.com/volcanoes-and-global-warming.htm). Humanos emitem 100 vezes mais CO2 que vulcões.
Senti uma tremenda falta de embasamento (ou seja, fontes) nas afirmações do texto.
No mais, qualquer tentativa de transmitir à população leiga um conhecimento não estabelecido dentro do meio científico é abominável. Se você genuinamente acredita nas coisas que você escreveu no texto, eu sugiro que você sintetize as suas evidências e tente publicá-las em periódicos científicos de alto impacto. Se o fizer, deixe a força das suas evidências convencer seus pares climatologistas. Se isso não acontecer, não é porque todo o sistema está enviesado contra você – é simplesmente porque você está errado. E se acontecer, se você conseguir, você vai ser provavelmente eleito o cientista mais brilhante desse século, porque acredite, NENHUM cientista, climatologista ou não, efetivamente quer que o aquecimento global seja realidade.
Tentar pular essa etapa de convencimento da academia e ir direto transmitir fatos incorretos para o público é tentar “trapacear” a escalada natural do conhecimento científico. É triste e é repudiável.
Estarei publicando este comentário também no texto original.
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Vou reforçar: estude sobre o uso das crases. Uma dica: quando a palavra quem vem a seguir está no gênero masculino, nunca se usa crase. Por exemplo: “a respeito” não tem crase.
Excelente artigo. Muito, muito obrigada. Só fiz questão de vir comentar sobre as crases porque o domínio da linguagem reforça a credibilidade da mensagem, e eu não gostaria que as pessoas enxergassem seu dedo enquanto você aponta para a lua.
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Obrigado pela dica!
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