Radiotelescópio em Gana é marco da astronomia no continente africano

Na localidade de Kuntunse, perto da capital Acra, se deu o primeiro passo de um projeto ambicioso: um programa espacial que assegure a Gana, país da África Ocidental, capacidade de controlar e vigiar seus recursos através de satélites próprios. Esse objetivo está ainda distante, porém a vontade dos ganenses de participar da pesquisa espacial já os levou a um marco: ser o primeiro país do continente, além da África do Sul, a ter um radiotelescópio funcional.

Já tendo feito algumas observações, relacionadas a emissões de rádio e pulsares, se espera que o aparato seja inaugurado ainda este ano. Será o primeiro de uma série de telescópios que se planeja construir no continente, para criar uma rede de telescópios que funcionem como se fosse um mesmo aparelho. Para isso, o plano é usar antenas de telecomunicações que não são mais necessárias, como a de 32 metros de diâmetro que foi transformada no radiotelescópio de Kuntunse.

Uma vez em funcionamento, o telescópio de Gana poderia ser parte da Rede Europeia de Interferometria de Longa Linha de Base (European Very Long Baseline Interferometry Network, ou EVN na sigla em inglês).  O consórcio é formado por 12 radiotelescópios em 8 países europeus, além de outros aparelhos em países como China, Ucrânia e África do Sul. E esta última nação, em parceria com a Austrália, tem a ambição de formar uma rede similar à europeia, que se concretizada, seria a maior do mundo. E poderia incluir Gana, além de Zâmbia, Quênia e Madagascar, que pretendem dar às velhas antenas o mesmo uso que a sua similar em Kuntunse. Até 2022, outras quatro nações africanas também poderiam contar com telescópios.

Apesar de ter contado com o apoio sul-africano (estimado em 9 milhões de dólares), se espera que Gana e os outros países participantes também se comprometam a dividir os custos, de acordo às suas possibilidades.

A participação ganesa no projeto sul-africano é parte dos esforços do país na área espacial, com a agencia nacional responsável pelo tema, a Ghana Space Science and Technology Centre (GSSTC) sido fundada há cinco anos atrás, em maio de 2012. Estima-se que em 2015, o governo ganês destinou 10 milhões de dólares para o setor de ciência & tecnologia espacial e nuclear. Num país pobre, com problemas de corrupção e de abastecimento de energia, esse gasto é criticado. Mas os benefícios de contar com imagens de satélite, por exemplo, incluem uma maior vigilância sobre a mineração ilegal e outras atividades que deterioram o meio ambiente, mais informação para prevenir os efeitos de desastres naturais e dados climáticos mais confiáveis para a agricultura, fundamentais num país em que metade da população trabalha nesse setor da economia.

“Não é que possamos competir com a NASA, mas nós construiremos uma infraestrutura que aproveitará o conhecimento que temos aqui em Gana” explica Godfred Frempong, cientista chefe numa das principais instituições científicas do país.

Referências:

Nature – Ghana telescope heralds first pan-African array

Motherboard – Why Ghana started a space program

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