Debate sobre desaceleração do aquecimento global reacende na ciência
Foto de capa: Twitter photo section. Autor desconhecido. Encontrado em HNGN
Como sabemos que esse tema é um ninho de vespas, é importante começar o texto com um disclaimer: Absolutamente nada desse debate coloca em xeque o consenso científico do aquecimento global causado pela ação humana. De fato, ambos os lados partem do pressuposto do fato que é o aquecimento global.
Dito isso, há controversa sobre uma possível “desaceleração” no aumento das temperaturas no início do segundo milênio. Esse efeito é conhecido como “hiato” no aquecimento global. Em junho de 2015, um estudo publicado na revista Science concluiu que o hiato era apenas uma percepção incorreta gerada por erros de estatística e vieses nos dados que, uma vez corrigidos, desapareciam. Porém, um artigo publicado 6 de março na Nature, da equipe do Dr. John Fyfe, contesta essa afirmação. Segundo Fyfe, não é possível ignorar as discrepâncias entre os modelos climáticos esperados do aquecimento e a realidade apresentada. Faye propõe a utilização de termos como “desaceleração” (slowdown em inglês) invés de “hiato”, já que as temperaturas não pararam de subir, apenas subiram menos que o esperado.

Gases lançados na atmosfera como o gás carbônico (CO2) são considerados os principais vilões para as atuais mudanças climáticas (Imagem: Mikael Miettinen via Flickr).
Ao mesmo tempo, porém, outra notícia saiu essa semana, onde o cientista Carl Mears, diretor de uma rede de satélites dedicada à monitorar a temperatura global, realizou um ajuste nos satélites para eliminar uma discrepância entre eles que enviesava os dados. O resultado foi um aumento de 0,18ºF, ou aproximadamente 0,1ºC, ao longo dos últimos 18 anos – o que é compatível com o esperado para esse período de tempo, e indicaria a ausência da dita “desaceleração”.
Todos esses dados certamente passarão por intenso debate nos próximos meses. Caso a desaceleração seja real, algumas possíveis explicações incluem o efeito da erupção de vulcões (o que acaba reduzindo a temperatura da superfície), ou a ação dos oceanos. A compreensão desse fenômeno, caso real, fornece dados valiosos para melhor ajustar os modelos matemáticos de predição do aquecimento global. E, caso o “hiato” não seja real, demonstra a força dos modelos preditivos até o momento, e reforça ainda mais a já esmagadora quantidade de evidências em favor do aquecimento global causado pelo homem.
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