O estresse pós-traumático e o seu dano ao longo das gerações
Visões favoráveis a respeito do envelhecimento promovem um senso geral de bem-estar, aumentam a autoeficácia e motiva adultos mais velhos a manterem um estilo de vida saudável, influenciando tanto o processo de envelhecimento biológico quanto físico. Contudo, a exposição a certos traumas, direta ou indiretamente, pode impactar de modo significativo essas visões, aponta um novo estudo.
A pesquisa, publicada pelo Journals of Gerontology: Series B revela evidência em primeira mão que visões negativas sobre envelhecimento são transmitidas em famílias de sobreviventes do Holocausto com casos de estresse pós-traumático. Esses sobreviventes vêem-se envelhecendo com menos sucesso comparados a outros que seguem sem traços de TEPT e até outros adultos que nunca foram expostos ao Holocausto, de acordo com o professor Amit Shrira do Departamento Interdisciplinar de Ciências Sociais da Universidade de Bar-Ilan em Israel, que conduziu o estudo. Além disso, descendentes de sobreviventes do Holocausto com sequelas traumáticas enxergam negativamente o envelhecimento de seus pais, e consequentemente aderem à sua visão de também não envelhecerem tão saudavelmente quanto filhos cujos pais não possuem TEPT, ou que não foram expostos ao Holocausto.
A maioria dos estudos a respeito de transmissão de trauma entre gerações focam-se apenas em uma geração, seja ela a dos sobreviventes ou a de seus filhos ou netos. Em um estudo anterior, publicado na Aging & Mental Health em 2016, por exemplo, Shrira descobriu uma certa ansiedade entre os filhos dos sobreviventes do Holocausto a respeito de envelhecerem e morrerem. Por ter acesso aos dois sobreviventes e também ao seu descendente durante este estudo, Shrira foi capaz de correlacionar os comportamentos, percepções e sentimentos entre pais e filho. Isso gerou mais evidências de que as visões negativas são transmitidas de pais traumatizados para os seus filhos.
Apesar de sobreviventes pós-traumáticos e seus descendentes terem uma percepção negativa sobre envelhecer, serem mais focados na fragilidade, solidão e a iminente ameaça da morte, eles ainda puderam relatar aspectos positivos desse processo, diz Shrira. “Isso pode ser explicado pelo acúmulo de experiência de vida e sabedoria, e a oportunidade de dividir as suas opiniões com as gerações mais jovens,” ele relata. “Isso é prova da força inigualável de muitos dos sobreviventes, mesmo daqueles que sofrem com um nível muito maior de estresse mental, mas continuam a não serem completamente dominados pelos efeitos do pós-trauma.”
Enquanto muitos sobreviventes manifestam uma fortitude impressionante, as visões negativas sobre a idade encontradas em sobreviventes pós-traumáticos e seus filhos ainda os colocam diante de um maior risco de deterioração física. O estudo enfatiza a necessidade de responder a tais percepções em intervenções com famílias de sobreviventes. Intervenções podem promover percepções diferenciadas e mais complexas sobre o assunto levando em consideração perdas potenciais relacionadas ao envelhecimento mas também a possibilidade da manutenção das funções, e até o aprendizado de novas habilidades. “Promover tais pontos de vista pode aumentar a autoeficácia e ajudar na preservação da saúde física entre os sobreviventes e suas futuras gerações”, explica Shrira.
Com o número de sobreviventes do Holocausto desaparecendo gradativamente, Shrira sugere que os esforços em ajudá-los junto de suas famílias seja reforçado pelo desenvolvimento de um modelo integrativo que pode levar a intervenções interdisciplinares que possam adequadamente promover o seu envelhecimento saudável.
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Fonte da matéria: EurekAlert!
Fonte da imagem: The OCR