Neurociência: nem tudo está na sua cabeça
AUSTIN, Texas – Cada um de nós possui experiências próprias e únicas que modelam o nosso ponto de vista em nosso mundo, assim como definem os eventos em nossas vidas. Contudo, experiência é algo altamente subjetivo. O que é relaxante e alegre para uma pessoa pode ser o seu exato oposto para outra.
Essas diferenças são muito importantes, especialmente agora que um grupo de pesquisadores mostrou que o que acontece em nosso cenário interno – nossas lembranças e pensamentos a respeito de nossas experiências – pode ter consequências físicas em nosso cérebro e corpo.
Esse foi o assunto da palestra apresentada no dia 16 de fevereiro pelo diretor da Universidade de Wisconsin e do Centro para Mentes Saudáveis Richard Davidson, no Encontro Anual da Associação Americana pelo Avanço da Ciência. A palestra foi intitulada “Como a Mente forma o Cérebro: Depressão e Bem Estar”.
“Como nós experimentamos o mundo nos afeta bem mais do que previamente pensamos ser possível”, diz Davidson, professor de psicologia e psiquiatria na Universidade de Wisconsin-Madison. “Nós estamos descobrindo que emoções e pensamentos podem alterar os trajetos neurais dentro do cérebro em curtos espaços de tempo, e até mesmo afetar processos como expressão genética e envelhecimento”.
Davidson diz que entrar no assunto do papel que a experiência de mundo exerce sobre a saúde mental pode ajudar cientistas e clínicos a desenvolver intervenções mais eficazes em tratar distúrbios como depressão e ansiedade.
Esta linha de estudo permanece em contraste com a tendência dos neurocientistas em colocar mais valor de estudo em comportamentos ao invés de experiências. Em sua palestra, Davidson defendeu sua descoberta propondo mais integração e conhecimento científico da relação do corpo com a mente, assim como um novo design de estudo.
Não só experiências e acontecimentos individuais deveriam ser inteiramente relacionados e mensurados em estudos neurológicos, mas os esforços aplicados para que tais elementos sejam levados em consideração estão revelando conexões de redes neurais anteriormente desconhecidas, estas que por sua vez estão relacionadas à saúde mental e certos distúrbios.
O problema, diz Davidson, é que experiência (ou vivência) muito tem sido usado e confundido como um sinônimo para comportamento, quando na verdade estes são fatores independentes, separados, e podem influenciar um o outro.
Davidson e outros cientistas do ramo usaram de ferramentas de imagem tal como a ressonância magnética funcional (fMRI) e eletroencefalografia (EEG) para medir a atividade e as estruturas do cérebro enquanto observavam a relação entre redes de neurônios específicos e como comportavam-se durante o estudo.
“O que é animador sobre estes achados é que quando nós levamos em consideração estes novos fatores, certos mecanismos cerebrais são observados que de outra maneira poderiam passar despercebidos”, ele diz. “Os achados provam a importância de levar ambos em consideração (experiência/comportamento) quando estudamos estruturas emocionais, psicopatológicas ou aquelas ligadas ao bem-estar pessoal”.
Estudos a respeito da meditação e consciência são exemplos de intervenções que focam em experiências individuais. Estas formas de treinamento mental guardam o potencial de influenciar como uma pessoa pode estar atenta a emoções e formular respostas a elas dado os eventos que a cercam, de forma a então afetar sua biologia e até mesmo seu comportamento.
Pesquisas anteriores relacionando o bem-estar emocional e casos de depressão podem agir como modelos úteis, diz Davidson, porque há evidências de que intervenções psicológicas por meio de treinamentos mentais para aumentar as qualidades positivas da mente tal como atenção e compaixão podem gerar efeitos duradouros no cérebro e nos aspectos fisiológicos da saúde.
Em teoria, cientistas podem usufruir dessa informação e começar a desenvolver intervenções que influenciam novas experiências de vida para estudar o impacto que podem ter no corpo e mente.
Davidson também está animado pelos novos métodos de estudo auxiliados e possibilitados por smartphones, pois eles são capazes de reunir dados sobre o paciente ao longo de específicos intervalos durante o dia – fora dos laboratórios de estudo – de maneira mais natural e em um ambiente real. A ideia, chamada de “amostra de experiência”, consiste em deliberadamente reunir informações sobre o estado mental da pessoa e sua vivência e hábitos, para formar uma imagem mais delicada e precisa de seu cérebro, comportamento e interações.
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Fonte da matéria: EurekAlert!
Fonte da imagem: Revista Galileu