Cafeína pode ter efeitos protetores contra úlcera no estômago, segundo estudo da UNESP
No mundo todo, milhões de pessoas lidam com os malefícios da chamada úlcera gástrica – que é caracterizada por lesões no estômago que causam fortes dores, similares à queimações. Úlceras têm várias causas, as mais comuns sendo infecção pela bactéria H. pylori, uso de certos tipos de anti-inflamatórios, fumo, álcool e estresse. Estima-se que até 10% da população mundial terá úlcera gástrica em algum ponto de suas vidas. Assim, procurar novas substâncias que sejam capazes de reverter o dano ou proteger o organismo antes que ele comece é essencial.
Felizmente mais um passo foi dado nessa direção em maio deste ano. Um grupo de pesquisa da UNESP de Botucatu, liderado pela Professora Drª Cláudia Pellizzon, resolveu se debruçar sobre compostos que estão inseridos no dia-a-dia do brasileiro: a cafeína, e também o Ácido Cafeico, presentes no café.
Estudos anteriores já haviam apontado um efeito antioxidante da cafeína, o que era interessante para o estudo de úlceras gástricas – o estresse oxidativo (ou seja, a produção exacerbada de radicais livres, que podem causar danos no nosso organismo) é um fator de risco conhecido que pode desencadear o surgimento de úlceras.
Parece um pouco contra-produtivo o estudo da cafeína para a proteção de úlceras no estômago, uma vez que se acredita que o café, por estimular a secreção de ácido estomacal, possa ser um fator irritante para essas úlceras. Porém, a associação entre café e úlcera tem sido questionada. De qualquer forma, Mariana Oliveira de Souza, graduanda em Ciências Biomédicas e autora principal do estudo, recomenda cautela. “O café é composto por mais de mil substâncias, então é difícil saber o que realmente causa a suposta úlcera”, disse, em entrevista ao Mural Científico. “A própria cafeína pode ser uma das causadoras por aumentar a secreção gástrica. Porém, nesse estudo, nós demonstramos que, dependendo da dose, a cafeína pode fazer bem”, completa a jovem pesquisadora.
O estudo foi realizado através da indução de úlcera em ratos através de álcool. Esses ratos foram divididos em vários grupos, que receberam tratamentos com ácido cafeico e cafeína em diversas doses, bem como grupos controle onde a úlcera não foi induzida, ou foi induzida mas não recebeu nenhum tratamento (além dos procedimentos necessários para controlar o efeito placebo, é claro). Um dos grupos também recebeu tratamento com Carbenoxolona, uma droga utilizada no tratamento de úlcera. Esses tratamentos foram ministrados antes da lesão ser induzida.
O que os pesquisadores descobriram foi que todos os tratamentos foram capazes de reduzir a lesão gástrica induzida pelo procedimento com álcool. Dentre os tratamentos, a dosagem de cafeína de 300 mg foi a que se saiu melhor. Essa é a dose máxima diária de cafeína recomendada para adultos, equivalente à duas xícaras de café. Além disso, tanto a cafeína quanto o ácido cafeico apresentaram ação antioxidante, melhorando os níveis de enzimas e compostos antioxidantes.
Assim, o grupo de pesquisa brasileiro demonstrou de forma bastante contundente evidências que apontam um benefício da cafeína na proteção contra úlceras. Naturalmente, esse é apenas o começo de um trabalho muito mais longo. “Esse estudo inicial é um modelo agudo”, disse a estudante de Ciências Biomédicas. “Por isso fizemos o tratamento antes da lesão, para ver se protege. No Mestrado quero fazer um tratamento crônico que permite verificar um modelo mais próximo ao que ocorre em humanos”.