De onde vieram os citas, o antigo povo nômade?

Imagem de capa: PHGCOM via wikimedia commons

Traduzido e Adaptado de EurekAlert, autor original Vladimir Koryagin.

Antropólogos da Universidade Estatal Lomonosov de Moscou sugeriram que o pool genético (o “acervo” de genes de uma determinada população) dos citas se formou com base em tribos locais e também com alguma participação de populações que migraram para o norte do Mar Negro vindas da Ásia Central. Os resultados da pesquisa foram publicados no American Journal of Physical Anthropology.

Os pesquisadores conduziram uma análise comparativa de várias séries de crânios, se enfocando nas frequências dos traços não-métricos cranianos (determinados geneticamente) para poder avaliar a sucessão genética entre os citas da região do norte do Mar Negro e os povos da Idade do Bronze do Leste europeu e da Ásia Central.

Alla Movsesyan, um dos principais pesquisadores do Departamento de Antropologia da Universidade Estatal Lomonosov de Moscou e um dos autores do artigo diz: “Atualmente há duas hipóteses principais acerca da origem dos citas. De acordo com a primeira eles vieram para o norte do Mar Negro vindos da Ásia Central como invasores e a população indo-europeia local foi assimilada por eles. Segundo a outra hipótese, os citas seriam geneticamente relacionados à população local da cultura de Srubna (ou cultura das tumbas de madeira) – uma associação etno-cultural de tribos da Idade do Bronze tardia (entre os séculos XVI e XII a.C.) que habitavam os cinturões de estepes e florestas entre o rio Dnieper e os montes Urais.

Devemos esclarecer que uma série cranial significa um grupo de crânios de uma ou mais sepulturas próximas, que pertencem a um grupo étnico ou uma cultura arqueológica, e distinções variáveis de traços não-métricos refletem pequenas diferenças anatômicas entre os crânios. Elas incluem orifícios irregulares ou extras, suturas cranianas irregulares, pequenos ossos nas fontanelas (popularmente chamadas de moleiras) e nas suturas. Esses traços se supõem ser de natureza genética e podem caracterizar o pool ou fundo genético de uma população. Foi revelado que as matrizes de distância genética entre populações, construídas com base nos traços não-métricos, tem correlação com as matrizes das distâncias genéticas entre as mesmas populações, construídas em conformidade com os dados dos marcadores genéticos moleculares. Consequentemente, uma análise comparativa dos traço craniais não-métricos pode ser considerada como uma espécie de alternativa para pesquisas com DNA no estudo de populações antigas.

Alla Movsesyan explica: “À diferença dos estudos com DNA antigo em material ósseo, que ainda é um processo muito complicado e caro, usar os traços não-métricos cranianos permite conduzir uma análise genética populacional de uma irrestritamente grande quantidade de séries cranianas, e isso é de muito valor para os estudos das conexões genéticas entre populações antigas. Essa técnica é realmente muito difundida na antropologia de outros países”

Com o fim de distinguir a medida das diferenças entre as populações, os antropólogos tem usado uma abordagem estatística, conhecida como mudança mínima detectável. Ela implica que as distâncias genéticas entre as populações são calculadas com base nos dados de frequências dos traços não-métricos. Os resultados obtidos permitem supor que ambas hipóteses acerca da etnogênese dos citas estão parcialmente corretas: o fundo genético cita foi formado com base em descendentes tanto da população local da cultura das tumbas de madeira quanto em populações que migraram vindas da Ásia Central.

A ideia de que os citas são predecessores dos eslavos (grupo étnico no qual se incluem os russos) é um mito persistente, apesar do fato dos cientistas terem provado há muito tempo que quase não houve continuidade entre essas duas tribos. Segundo Alla Movsesyan: ” De acordo com a hipótese de B.A. Rybakov, estabelecida no seu livro ‘A Cítia de Heródoto’, uma parte das tribos citas, os chamados citas agricultores[1], provavelmente tomou parte na etnogênese dos eslavos devido à prolongada proximidade geográfica. No entanto, a ideia de que os citas são antecessores diretos dos eslavos não é apoiada por nenhum dado arqueológico, antropológico, genético ou linguístico”.

[1] Heródoto, Histórias, Livro IV, Melpômene, 18

sobre-o-autor-alejandro-rico