Nossos primos chimpanzés e confusões sobre a Evolução
Imagem de capa: Berkeley university
Dando uma rápida googlada no termo “evolução”, dá-se de cara com aquela imagem icônica do chimpanzé se transformando gradualmente em ser humano, reproduzida de um milhão de maneiras, desde os Simpsons até o famoso “voltem que deu merda”. Ao contrário do que a busca sugere, esta não é uma representação adequada da evolução. A imagem que aparece é uma forma da scala naturæ, que demonstra um pensamento que data da época de Aristóteles, um dos primeiros a se preocupar com a classificação dos seres vivos.

Um exemplo (satírico) da scala naturae, uma representação incorreta da evolução das espécies (Imagem: Autor desconhecido, extraída da internet)
Scala naturæ, ou escala da natureza no bom e velho português, é uma representação do pensamento de que todos os organismos vivos podem ser organizados de maneira linear, do menor grau de complexidade até o maior, que comumente é representado pela condição humana. Na Idade Média, a scala naturæ agregou ainda uma nova conotação, com toda uma hierarquia de seres sobrenaturais acima dos seres humanos, de acordo com a ordem da criação, em uma escala em direção à perfeição, refletindo o pensamento fortemente religioso da época. Já no Renascimento, com a valorização do ser humano, o homem voltou a ser o topo da scala naturæ: o máximo da complexidade e perfeição.
No entanto, apesar de claramente não ser um pensamento científico, essa representação perdura até hoje como parte da teoria evolucionista na cabeça de muita gente. É importante entender que a evolução não segue uma linha em direção à perfeição. E mais: a evolução não segue linha nenhuma. O ser humano não é a representação divina na terra, nem tem o máximo de complexidade biológica imaginável. E muito menos é uma evolução do chimpanzé. Não.

Um exemplo de representação em árvore filogenética, considerada mais adequada. (Imagem: Domínio público, via Wikimedia Commons)
A melhor representação de evolução que existe é a de uma árvore, que nós biólogos gostamos de chamar de filogenia, ou árvore filogenética. Essa representação segue basicamente o mesmo princípio da árvore genealógica. Um grupo de seres vivos ancestral dá origem a pelo menos dois outros grupos, que por sua vez também podem se subdividir e assim por diante. A evolução em si ocorre porque há essa separação dos grupos e porque eles acumulam diferenças genéticas que são passadas aos seus filhos. Assim, se nós separarmos um grupo uniforme de pessoas pela metade, e colocarmos cada um dos dois novos grupos em lugares completamente distintos por milhões de anos sem contato, dificilmente esses grupos, que inicialmente eram um só, continuarão iguais. Isso é evolução.
Tomemos por exemplo o grupo dos hominídeos, que engloba os chimpanzés, humanos e outros símios. Os chimpanzés, pertencentes ao gênero Pan, dividem um ancestral em comum com o gênero Homo, dos seres humanos, o que nos torna primos desses macacos, sem sermos “mais evoluídos” que eles afinal.
Para mais informações: tolweb.org.
Bom texto! Volta e meia me deparo com uma amigo que tem uma blusa com essa ideia de progressão na evolução das espécies. Acho interessante algumas coisas da concepção da época de evolução. O topo dela era o homem branco e outros seres humanos como africanos e asiáticos estavam numa escala inferior. Outra coisa que no primeiro artigo de
Darwin & wallace sobre a origem das espécies não há a palavra evolução, mas sim a descrição de descendência com modificações. Acho que esses pontos sempre são interessantes de serem lembrados 🙂
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